terça-feira, 9 de agosto de 2011

Brasileiros em Grenoble II

O post anterior puxou esse outro aqui.
Apesar das dezenas ou mesmo centenas de brasileiros, eu nao conheço muitos. Coisa minha mesmo. A maioria dos brasileiros que conheci aqui e com quem mantenho contato acho que foi através de minha esposa. Nao sou muito simpatico com estranhos. Acho que nem sou muito simpatico, apesar de brincalhao. Se eu ver alguém falando português é muito dificil que eu venha a falar "Ah, você é brasileiro? Quer ser meu amigo?". Aprendi a ser desconfiado com brasileiros pelo fato de eu ter morado alguns anos nos EUA, onde brasileiros dizem pra "ter cuidado com brasileiro". Estranho que sempre me falavam para nao confiar em mineiro de Governador Valadares. Nao entendo porque logo de Valadares. Eu até conheci um pizzaiolo muito gente boa que era valadarense, e que dizia também pra nao confiar em gente de Valadares. Bizarro. Mas eu nao confiava nele.

Na França, minha posiçao mudou. Nos EUA eu era um pobre trabalhador tentando a vida, na França eu sou um pobre estudante tentando a vida acadêmica. Essa historia de desconfiança parece mudar com estudantes, pelo menos foi o que vi por aqui. Nao acho que tenha esse negocio de passar a perna ou de querer se aproveitar, como acontece com muito imigrantes brasileiros em paises de primeiro mundo.

Entretanto, minha esposa conheceu uma pessoa que me fez voltar a pensar no que dizia meu colega pizzaiolo valadarense. O contato com essa amiga foi, de uma maneira geral, algo do tipo "Oi, sou brasilieira também. Quer ser minha amiga?". Em um local publico ela ouviu que eu conversava em português com minha esposa. Amizade relâmpago que deixou minha esposa muito magoada. Nada de passar a perna ou de se aproveitar, mas foi coisa de mulher mesmo. Coisa de amizade, falsidade e diversos outros fatos bizarros, que terminou chateando minha esposa. Falo sempre pra ela que essa amizade estranha terminou servindo para colocar outras pessoas legais no caminho dela. Coincidentemente (ou nao) essas pessoas legais terminaram se afastando da tal amiga de comportamento questionavel.

Filho, nao fale com estranhos
Acho que aprendi bem aquele conselho que ouvimos quando criança: "nao fale com estranhos". Nao importa a nacionalidade. Talvez se eu estiver a Sibéria e passar por um cara com fisionomia de brasileiro falando português eu possa puxar papo. Talvez. Mas nao o farei em Grenoble, Paris, Tokio, ou onde for. Se a pessoa estiver no meu circulo social, eu tento falar, claro. Nao sou chato de galocha. Apenas chato. Por exemplo, se o compatriota estuda na mesma sala que eu, eu me dirijo até ele e troco idéia, claro. Se for do meu laboratorio, vou trocar idéia sempre, tomar café, falar de futebol, do Brasil, da França, de computaçao ou do que for. Esta "promiscuidade" em fazer amigos é algo natural quando se esta longe da terrinha. Em Manaus por exemplo, existe uma confraria de pernambucanos, que fundou o Galo de Manaus, em homenagem ao Galo da Madrugada de Pernambuco. O maior bloco de carnaval do mundo! Lembram da megalomania pernambucana de que sempre falo?

Quanto à promiscuidade em fazer amigos por aqui, tive algumas experiências traumatizantes, duas delas relatadas a seguir, e uma positiva:

Brazuca chato No. 1
Levei um "/ignore" no primeiro evento de doutorandos que fui no LIG. Fui ver o poster de um cara e ja cheguei perguntando "Você é de que estado? Bla bli". Ele respondeu o que eu tinha perguntado. Depois falou um "da licença" virou as costas e foi falar com sei la quem. Baixei minha cabeça, enterrei o queixo no peito, botei a mao esquerda no bolso, chutei o vento, enxuguei a lagrima com o indicador direito. Dramatico, nao é? Brincadeira. Apenas pensei, com muita raiva: "FDP, e eu perdendo tempo aqui querendo dar uma de simpatico. Por isso nao falo com esses brazucas metidos a merda que se acham alguma coisa por que estudam na Europa". Bom, essa uma teoria de uma amiga de minha esposa que ja voltou para o Brasil, pois ela também teve encontros deste nivel com outros brasileiros. Sei la. De repente nao tem nada a ver. Talvez ele fosse pouco simpatico, como eu. Ou nao. Vai saber...

Brazuca chato No. 2
Depois de dois anos, o trauma de "busca aleatoria de amigo compatriota" passou. Tentei estabelecer contato ano passado com outro homo sapiens sapiens brasiliensis. O especime era especificamente um homo sapiens sapiens brasiliensis australis que aparentemente tentava acasalar-se com uma homo sapiens sapiens norvegiana. Tenho bons amigos mexicanos, que sao da minha equipe, e estavamos na festa de aniversario de outro mexicano. Um deles chegou pra mim e falou "tem um amigo brasileiro teu aqui, vamos falar com ele". Fui até o compatriota que cortejava a gringa, cumprimentei-os e me apresentei. Depois de um dedo de prosa em nossa lingua mae, falei pra ele que meu amigo mexicano sabia falar português. Ele vomitou todo o linguajar polido que eu o havia ensinado. Eram frases complexas, que iam de elogios à mae a questionamentos sobre a sexualidade. Nao tinhamos bebido tanto. O (fingiu que) riu da brincadeira, e trocamos mais meio dedo de prosa. O compatriota revelou-se ser um homo sapiens sapiens brasiliensis australis stupidus e manifestou um pouco de pressa e repelência ao falar conosco. Eu e meu amigo borracho percebemos e nos afastamos. Este me disse "tus amigos brasileños son todos unos pinches culeros", que esta longe de ser um elogio. Ainda bem que eu nao ensinei piada de gaucho, senao a conversa teria sido mais breve ainda.

Brazuca Bacana
Rarissimas sao as exceçoes de eu "falar com estranhos". Uma delas foi no aeroporto de Lisboa. Olhei pra um cara, e do nada perguntei "tas indo pra Recife também?". Sim, ele estava indo. E ele tinha vindo de Grenoble. E tinha dormido no aeroporto de Lyon na noite anterior, igual a mim. Tinhamos tomado o mesmo ônibus Grenoble-Lyon e o mesmo aviao Lyon-Lisboa. E nao lembramos de termos nos visto la. Em Lisboa ficamos conversando, tomamos o mesmo aviao para Recife, mas viajamos em poltronas distantes. Ele voltaria alguns meses depois para um pos-doc de um ano. Passei o endereço do blog pra ele ver se achava alguma informaçao util e mantivemos contato desde entao. Hoje somos bons amigos, ele ja esta de volta à Maceio, e tenho certeza que manteremos contato apos retornarmos ao Brasil.

Nada contra
Que fique claro: nao tenho nada contra brasileiros. Apenas nao sou de fazer amizade em paradas de ônibus/tramway nem sou de procurar comunidades de brasileiros. Para os recém chegados, ou que planejam vir, nao levem em conta minha experiência. Ela é a minha. A de vocês pode ser outra. A brazucada aqui é animada. Busquem as comunidades do Orkut (até quando ele existir) onde o pessoal organiza peladas, churrascos, festas, etc ou vao ao Bukana pub, onde sempre tem evento brasileiro. Mas tentem nao esquecer de que vocês vieram (ou virao) aqui para estudar.

4 comentários:

Laura disse...

Oi Kiev, muito legal teu post e tenho uma opiniao parecida sobre os brasileiros no exterior. Acho q nao da para dizer que todo brasileiro é assim, pois no Brasil ha brasileiro de todos os tipos. No entanto, aqueles que tem a possibilidade de vir para o exterior costumam ser muitas vezes arrogantes. Sei la, de certo se acham seres superiores por estarem aqui. Em congresso tive o desprazer de conhecer uma brasiliensis australis podre de arrogante, quando eu da mesma espécie, fui perguntar mais sobre a sua pesquisa. No proprio labo ja fui detonada em um atelier por uma brasiliensis setentrionalis que tinha sede de mostrar conhecimento e senso critico face aos professores ali presentes na minha apresentaçao. Sem falar do caso emblematico de uma outra moça brasiliensis australis germanica que faz amizade facilmente, mas que coloca seus interesses acima de qualquer coisa e que eu prefiro nao citar o nome hehe. Por essas e outras tb nao faço mais parte da rodinha de brasileiros em Grenoble. ao mesmo tempo considero que os poucos brasileiros que ficaram no meu circulo sao os que valeram a pena. Apesar de tudo ainda tem gente boa, né?

kiev gama disse...

Ola Laura,

Sim, tem muita gente boa. O problema é que quando vivenciamos casos como os que descrevemos termina nos deixando com um pé atras em relaçao às pessoas que aparecerao depois.

E esse caso que você citou da colega que queria aparecer pros profs no ateliê me lembrou dois colegas daqui, franceses, muito gente boa que se "transformaram" no seminario da equipe (anos diferentes, respectivamente) e detonaram os colegas. Ambos os detonadores estavam no ano de defesa. Nao sei identificar se é excesso de confiança, de insegurança ou do que seja.

Um abraço!

Gabriel Duarte disse...

Olá Kiev, tudo bem?
Estou indo pra Grenoble em algumas semana e gostaria de pegar umas dicas com você, se puder, claro. Estou indo pra um estágio de 6 meses no INRIA e ainda estou com pendências com o consulado pois eles são super ignorantes e não respondem o que preciso.
Só dependo disso pra comprar minhas passagens e marcar a consulta para meu visto.
Abraços

CELIA COSTA disse...

eu te apoio brasileiros em outro Pais somente para nos foder. ja tive uma experiencia traumatica.