quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Seguro Saùde na França IV

Falei no mês passado sobre atendimento no exterior, que é reembolsado pelo seguro saùde francês.
Repetindo o que escrevi:

Liguei e perguntei se os 205 euros seriam reembolsados 100%. Falaram que iam "estudar o dossiê" mas provavelmente seria reembolsado se apresentasse todos os documentos necessarios (recibo, boletos de viagem e formulario preenchido) visto que os gastos de urgência sao cobertos até mil euros.

Recebemos o reembolso na semana passada. Como o reembolso é feito com base nas tarifas em vigor na França, eles colocaram o valor da consulta de urgência daqui. Nao lembro se a mulher com quem falei ao telefone tinha dito 40 ou 60 euros. Ao final, com essa tarifa e o valor dos medicamentos que foram administrados no hospital, o reembolso foi quase 1/3 do valor total cobrado na Espanha.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Visita ilustre

Hoje veio aqui em casa o Conselheiro Geral do departamento de Isère, M. Denis PINOT, pedindo voto para sua reeleiçao. Nao conheço quase nada de politica na França. Nem mesmo os politicos. Sei que o presidente é Sarkozy, o primeiro ministro é Fillon, e que tem um politico chamado Le Pen que odeia estrangeiro. Depois um ou outro gato pingado.

O Monsieur PINOT se apresentou como membro do Partido Socialista (o logo, igual ao do PDT, vem daqui) anunciando quem era mas meu semblante nao se alterou. Ele tirou um jornalzinho da pasta e disse "'voici' um folheto para você saber de que se trata". Tinha a cara dele estampada no jornalzinho. Isso apenas me tirou a impressao inicial de que ele fosse mais um vendedor. Ele fez seu blabla rapidamente, e eu expliquei que achava interessante mas nao poderia votar e falei que nao era francês. Ele se fez de espantado e disse que nao parecia pois meu sotaque nao deu pra perceber isso. Mentiroso (politico, né?), pois esse semestre tive uma aluna que se queixou nesse semestre do meu sotaque que era dificil de entender algumas coisas. Ao perguntar minha nacionalidade, M. PINOT falou que o prefeito de Grenoble, Michel DESTOT tem um filho que casou com uma brasileira e que foi morar la no Brasil. Se eu nao tivesse dito pro "Seu Pinô" que ia voltar pro Brasil depois que terminar a tese, poderia ter mostrado pra ele o bom espirito brasileiro de trambique e troca de favores dizendo algo do tipo "se eu der entrada na nacionalidade e o senhor facilitar e acelerar meu processo, tem meu voto garantido". Fica pro proximo candidato que aparecer aqui, caso nossa casa entre na escolha aleatoria dele.

Conselho Geral?
A divisao politica da França é meio diferente do Brasil. A França tem 27 regioes, subdivididas em 101 departamentos (antigamente eram 96). Depois disso nao entendo nada. Um departamento tem arrondissements, cantoes e communes (pode ser um pedaço de uma cidade, uma cidade ou varias cidades). Fui ver no velho amigo wikipedia o que era esse tal de Conseil Général e o que M. PINOT faz. Até mesmo no wikipedia nao sabem bem explicar a definicao de Conseil Général:
"Le terme « conseil général », difficile à comprendre aujourd'hui..."
La dizem que esses conselhos gerais sao responsaveis por açao social, transportes, educaçao e desenvolvimento local para cada departamento. Nao seriam o equivalente a deputados, pois eles nao sao poder legislativo. Além disso existem os deputados de cada departamento. Apesar de Grenoble fazer parte do departamento de Isère, o presidente do Conselho Geral ganha menos (1876 €) que o prefeito de Grenoble (5400 €). Continuo sem entender bem a divisao de responsabilidades aqui, mas nao tenho interesse em me aprofundar muito nisso.

A questao que achei curiosa é que nunca recebi politico em casa no Brasil, e nem sei se eles fazem esse tipo de contato individual. O que vejo no Brasil sao caminhadas, e visitas em areas carentes onde é facil "trocar" o voto por promessa de obras. Outro detalhe é que, depois de quase 4 anos aqui nunca vi movimentaçao de campanha politica, bem diferente do espalhafato no Brasil. Segundo o site do Ministère de l'Intérieur, desde 2007 (quando chegamos) houve diferentes eleiçoes aqui. Nunca vimos movimentaçao politica nas ruas, nem camisas, nem banners, nem comicios. Nao sou muito de ver TV, entao nao sei dizer se rola horario politico ou debates. Para presidente sei que tem, e assisti no Brasil pela TV5 Monde um debate de Sarkozy e Royal (nao entendi muita coisa na época pois estava engatinhando na lingua francesa).

Monsieur PINOT, nao vou votar no senhor, mas seu nome nunca esquecerei por ser o mesmo da famìlia da variedade de uva que faz os meus vinhos favoritos: pinot noir, da Borgonha, e as pinot gris e pinot blanc da Alsàcia. Além disso nunca esquecerei a visita de um politico em minha casa, coisa que nunca aconteceu nem sei se acontecera morando no Brasil. Pode até ser alguém com intençoes de se beneficiar da maquina publica, mas esse contato cara a cara nos permite saber quais as intençoes do cidadao que supostamente deve representar o povo, dando oportunidade de debater pessoalmente com quem eu poderia confiar meu voto, fazendo perguntas e esclarecendo minhas duvidas. Podendo conhecer e ver realmente quem é e o que pretende o candidato. Mas se for Tiririca quem bater na minha porta um dia fica dificil. Se eu perguntar sobre seus projetos, ele nao sabe nem quais sao. Acho que pediria pra ele contar umas piadas ou cantar "Florentina" porque isso com certeza ele sabe, e sera bem mais interessante.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Escolhas

Eu digo que é sempre bom ter-se uma opçao apenas. Porque quando temos mais de uma começa a ficar dificil tomar decisoes. Especialmente quando se esta inseguro. Ja falei aqui que voltaremos para o Brasil apos minha defesa do doutorado. No post anterior falei que o pedido de cidadania francesa furou. Hoje foi a vez de eu declinar um convite de pos-doc. Apenas a carater informativo: pos-doutorado nao é titulo. O grau acadêmico maximo é o doutorado. Logo, esta meio furada a afirmaçao "fulano(a) é pos-doutor(a)". Pos-doc refere-se ao periodo (geralmente entre 1 e 3 anos) passado por um doutor em uma instituiçao de pesquisa (universidade, instituto, departamento de P&D de empresa, etc). Tem doutor que fica pulando de galho em galho fazendo pos-doc por muitos e muitos anos, mas o normal é ficar um ano em um pos-doc e em seguida arrumar algo mais duradouro. Professores doutores também fazem pos-doc (utilizava-se o termo periodo sabatico), servindo pra dar uma atualizada ou aprofundada em alguma area do conhecimento.

Non, merci
Normalmente um doutorando (ou mesmo um recém doutor) rala pra encontrar pos-doc legal. Esse que declinei caiu no colo. Meu orientador falou pra um arquiteto de software do departamento de P&D de uma grande empresa de telecomunicaçoes européia (aquela com nome de fruta) que eu estava acabando a tese e buscava um pos-doc. Ele conhece a tematica com que trabalho, que tem a ver com os projetos do departamento dele. Recebi o convite para continuar com eles na mesma linha de pesquisa de minha tese. Um framework (para os leigos: digamos que seja um software que serve de infraestrutura para fazer outros softwares) deles entrarà em fase de industrializaçao, e eu iria aplicar neste projeto tecnicas que usei na minha pesquisa do doutorado. O projeto pronto potencialmente poderia entrar nos produtos dele a médio prazo, que em alguns anos significaria milhoes de usuarios. Claro que produtos de pesquisa tem sempre grande potencial de serem engavetados e nunca chegar perto do mercado. A possibilidade de milhoes de usuarios é altamente motivadora. Fora o desafio, a grana ia aumentar pelo menos uns 50% em relaçao ao que ganho hoje, que ja nao é ruim pro padrao francês mas também nao é boa, ainda mais para uma familia de 3. Se tivesse abertura pra negociaçao eu até choraria pra ganhar mais. Soube que eles tem varios beneficios, inclusive passagens aéreas baratas.

Mas ja é passado. Tive que declinar, pois entra o lado familiar visto que a nossa decisao é retornar para Pindorama. Minha esposa esta vivendo quase 4 anos aqui na França sem nunca querer ter saido do Brasil. O estranho é que ela gosta daqui, mas nao gosta do fato de estar aqui. Acho que foram os anos mais dificeis da minha vida (e da dela imagino que também). A infelicidade dela era diariamente aparente, com breves momentos de alegria. Depois que ficou decidida a volta, o bom humor dela ficou mais frequente, e o brilho nos olhos dela parece até que aumentou. Uma pena que eu e nossa filha nao sejamos suficientes pra felicidade dela. Pra mim o trio ta otimo. Mas, cada um é cada um.

Valorizaçao dos trabalhos de tese
Ainda nao defendi a tese, mas fico motivado pelo que faço ter uso no mercado. Em uma apresentaçao nao tanto acadêmica que fiz em 2009, uma pessoa se interessou pelas técnicas que proponho. Fiquei desconfiado se o cara realmente tava interessado. Achei que ele estava louco em pensar que o que eu fazia era interessante. Hoje ele aplica essas técnicas no produto em desenvolvimento na empresa start-up que ele criou, e atualmente eu e meu orientador damos consultoria pra esta empresa através de um contrato formal com nosso laboratorio.

Voltando para o Brasil provavelmente terei que fazer outra coisa. Minha pesquisa atual nao tem espaço no mercado brasileiro, que normalmente usa tecnologia pronta ao invés de desenvolver. A interaçao universidade-mercado na França nao é tao forte como nos EUA, mas é bem mais avançada que no Brasil. Por incrivel que pareça, a impressao que tenho da academia brasileira é que predominam abordagens cientificas e formais, enquanto na França (e na Europa em geral) vejo tanto isso quanto pesquisas aplicadas diretamente no mercado.

Sem precisar fazer lobby nem correr atras de nada, a tal "valorizacao dos trabalhos de tese" (um termo que usam aqui na França) aconteceu meio que naturalmente. Muita gente trabalha em pesquisa de doutorado durante 3, 4 anos, defende, engaveta a tese e nunca mais se fala naquilo. Antes mesmo de terminar a minha ja pude fazer reais contribuiçoes. Tenho (ou tinha) um grande complexo de inferioridade por ser aluno de universidade privada tentando se meter em meio acadêmico. O fato de vir a um pais de primeiro mundo, poder dizer "olha, vocês poderiam fazer isso assim" e te darem ouvidos me deixou bastante satisfeito. Essas pequenas vitorias me ajudaram a superar esse trauma e melhorar minha autoestima.

What if
Mas, em nome da familia, agora é hora de eu abrir mao de algo. O processo de auto sugestao hipnotica alienante power plus plus de me convencer para a volta esta tranquilo. Eu acho (percebam como estou decidido). Estou convencido de que quero voltar agora. Claro que sim! o boom economico do Brasil, os concursos, investimentos no Nordeste, o legado de Lula. Eh agora ou nunca! * pausa* Cada vez mais acho que este post é parte do trabalho de autoconvencimento, autoconformaçao, autoetc para "eu mesmo me auto justificar para mim". Bom, se eu nao voltar fico sem familia pois minhas meninas voltariam sem mim. Se é pra voltar, tenho que querer, ou ao menos me convencer que agora é a boa hora. *fim pausa* Mas, o plano atual de retornar e prestar concurso de professor adjunto em federal vai ter que esperar devido a noticia que vi hoje dos cortes que o governo fez no orçamento de 2011 (preciso tirar os concursos da lista acima). Coincidência bizarra de acontecer isso no dia que eu recuso um pos-doc legal. Sem previsao para concursos, é hora de traçar o plano D e talvez buscar emprego de novo no mercado brazuca, rasgando o diploma de doutorado que ainda nem tenho pois doutorado nao serve de nada nesse mercado de onde vim.

Entretanto, ficara pra sempre a duvida do "e se eu ficasse um pouquinho mais de tempo na França, até onde iria tudo isso?" (isso me lembra o what if das historinhas da Marvel). Afinal, nao tenho vinculo com Capes nem CNPq que me obrigue a voltar. Um aninho a mais, daria tempo pra tirar cidadania, juntar mais uns eurinhos pra voltar e quem sabe dar mais umas turistadas pelas redondezas. O problema também é que ficando, no futuro surgirà o "e se tivessemos voltado logo apos o fim do doutorado?".

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Cidadania francesa

Nao, nao tirei a minha. Quase. Conto a historia a seguir.
Em setembro do ano passado, ao voltar conversei com um amigo marroquino la do laboratorio que disse que ia dar entrada na cidadania francesa. Ele falou que a cidadania de um amigo dele que faz tese em computacao, como nos, com contrato CIFRE (em parceria com empresa) saiu em seis meses. Meu amigo ficou empolgado com a idéia e ia dar entrada, finalmente, pois ele mora aqui ha nove anos. Ele falou que é so pedir na prefeitura um formulario e fornecer uma tonelada de documentos. Quando fui pegar minha carte de séjour, em setembro, aproveitei e fui também no atendimento da cidadania pra me informar. A conversa foi mais ou menos assim, e ja cheguei fazendo o "migué", como dizem na minha terra:

Senhora, estou renovando meu quarto titre de séjour, e como pretendo ficar aqui na França acho mais facil pedir cidadania pra facilitar a vida etc e tal.

Bom, era mentira, pois eu queria voltar pro Brasil depois da tese. Bem, na verdade minha esposa é que quer voltar a todo custo, e depois de um longo processo de autosugestao hipnotica alienante eu me convenci de que quero ir também. Mas, voltando ao dialogo com a mulher da prefeitura:

Veja bem, senhor. O objetivo da cidadania nao é simplificar a burocracia. O negocio é integrar à pessoa à sociedade francesa.
Sim, claro. Eu quero me integrar. Vou me candidatar a Maître de Conférences (equivalente a professor assistente) aqui e tudo.

Mentira de novo. Se eu fosse Pinoquio meu nariz ia crescer outra vez. Se bem que ia passar despercebido na França, visto o narigao que a galera tem aqui. Continuou a madame da prefeitura:

Tudo bem. Mas veja que o estatuto de estudante é precario. Você tera poucas chances. Para obter a cidadania é importante ganhar mais que o SMIC (salario minimo) e pagar impostos.
Olhe, eu sou estudante de doutorado mas meu estatuto é scientifique, pois sou allocataire de recherche. Como sou monitor também, fica bem acima do SMIC, e eu também ja pago impostos.
Ah, ok. Se é assim entao você tem mais chances. Veja se você cumpre os requisitos, leve esse formulario, preencha e forneça todos os documentos listados nessa folha. Você pode adicionar outros documentos como uma carta de recomendacao, por exemplo de associaçao do bairro, para provar sua integraçao à sociedade. O tempo de resposta é de até 18 meses mas estamos trabalhando para baixar para 12 meses.

Requisitos
Os requisitos para pedir cidadania sao varios. O meu seria:
  • Morar ha pelo menos 5 anos no pais. Exceçoes para quem tem diploma superior francês e dois anos adicionais de estudo na mesma area do diploma.
No meu caso, tenho diploma de Master 2 Recherche (M2R) e mais dois anos e meio de doutorado. O fato de nao ter concluido o doutorado ainda poderia ser negativo, mas tem o historico do rapaz citado acima, que conseguiu em 6 meses ainda como doutorando. Busquei em foruns na Internet e teve gente falando em 5 meses. Como sou da area de Informatica, que ainda possui carência de profissionais na França e em varios outros paìses desenvolvidos, acho que seria um ponto positivo do meu pedido. Além de tudo isso, o prejuizo investimento ao final de nossa estadia custara algo perto dos 100 mil euros para os cofres franceses, juntando bolsas, ajudas sociais, viagens para conferências, etc. Se contabilizar a mensalidade da universidade, que é publica, acho que passa a faixa dos 100 mil. Baseado em antigas declaraçoes de Sarkozy, que pede que estudantes de BAC+5 (Master e Engenheiros) pedindo que nao retornem a seus paises, e fiquem na França, imaginei que seria o mesmo com doutores. Aquele negocio de guardar o investimento pra ter retorno. Eu achava que tinha varias razoes para receber a cidadania, além disso nossa filha nasceu aqui e eu poderia dizer que estava me enraizando, e ela se educando em instituiçoes francesas. Mesmo sem ela ter nacionalidade achava que o argumento seria valido e fortaleceria o pedido.

Just in case
Apesar de nossa filha ter nascido aqui, ela nao é francesa pois nenhum dos pais tem cidadania daqui. O direito de solo nao existe mais na França (alguém me falou que ha um tempo quem nascia era cidadao, mas nao sei se procede essa informaçao). Na verdade existe parcialmente. A criança teria direito a pedir a cidadania aos 16 anos, com a condiçao de estar morando na França e ter vivido ao menos 5 anos, nao necessariamente continuos. O lance de cidadania era mais pra ela, que ganharia automaticamente se viesse pra mim. A minha esposa estaria fora, pois o pedido dela teria que ser feito à parte, mas ela nao qualificaria por nao ter diploma + 2 anos de estudo.

Além de obter cidadania pra filha e ela poder ter uma outra opçao no futuro de querer vir estudar aqui e ter todos os beneficios possiveis, tem o lance para nos mesmos, de poder facilmente voltar caso nosso retorno ao Brasil dê em algo errado, ou se bater um arrependimento de trocar o conforto de um pais desenvolvido pelo calor (tanto do clima como da familia e amigos) da terrinha natal. Adoro a qualidade de vida daqui, e sentirei bastante impacto em varios sentidos voltando para o Brasil. Acostumar com coisa boa é facil. Desacostumar é dificil. Mas minha terra é minha terra.

Para que nao pensem que é frescura de quem vem morar na Europa, tentem me entender com um exemplo exagerado: sua mae é uma prostituta, e mora numa favela, onde você cresceu. Você vai morar em outro lugar melhor, nao mora mais naquela favela, e tem acesso a coisas melhores. Apesar de preferir essa vida nova, você sempre sera filho da puta que cresceu num favela. Mas você sempre vai amar sua mae, independente do que ela faz, e você vai sempre se sentir em casa na favela onde cresceu. De qualquer maneira, o que fazem com tua mae te incomoda, e as condicoes de vida na tua favela poderiam ser melhores, menos violencia, etc. Agora leia de novo o inicio deste paragrafo, trocando a palavra "mae" por "patria", e "favela" por "paìs". Entendeu agora?

Voltando à cidadania francesa: ficamos na duvida aqui em casa se voltariamos pro Brasil no fim do doutorado ou nao. Fica e espera cidadania? Vai ou nao vai? Como diz a letra daquele forro: Eu boto ou nao boto? Tô com medo. Decidimos que iamos voltar de qualquer maneira em outubro, depois da defesa. Dariamos entrada na papelada, e se saisse a cidadania, beleza. Senao, tranquilo também. Estava com todos os documentos ja. Até antecedentes criminais do Brasil tinha.

Documentos originais
Ao preencher o formulario vi que falavam em ficar com documentos originais. Perguntei a meu amigo que tinha dado entrada, e ele confirmou. Eles armazenam sua certidao de nascimento (no meu caso seria a de casamento) e varios outros documentos. Abort mission. Dei ré e desistimos. Nao queremos correr o risco de ir embora e deixar documentos importantes aqui, em troca de uma coisa que "pode ser que talvez de repente seja util no futuro".

Digamos que desse certo e até mesmo que nao voltassemos. Mesmo que me desse emprego publico francês, cidadania e mudassem meu nome pra Jean Pierre, eu nunca me sentiria francês. Nem português, nem norte-americano, nem o que seja-ês. Apesar de nos 14 anos vividos na minha idade adulta (dos 18 anos aos 32 que terei no fim do doutorado) ter passado metade no exterior (3 nos EUA e 4 na França). Nasci e cresci (0 a 18 anos) em Recife. Eu falo outras 3 linguas, mas nunca dominarei nenhuma como o meu português brasileiro. Sou brasileiro para sempre. Minha alma é brasileira e minha cultura é nordestina. Meu sotaque pode até ter enfraquecido, mas falo ôxe, vixe, eita porra, véi, carai. Sou brasileiro, pernambucano e megalomaniaco. Tenho raiva e amor, vergonha e orgulho da patria que me pariu.
Mas bem que um passaportezinho europeu cairia bem, no caso da minha patria mae arrumar um cafetao malvado em um governo futuro...