terça-feira, 24 de agosto de 2010

Papai e bebê

Desde que me tornei pai, venho me indignando com a imagem do mundo machista em que cuidar de bebê é tarefa da mãe. Dos olhares desconfiados (do tipo "ele vai mesmo ajudar?") das enfermeiras quando falavam pra gente dos cuidados com o bebê. Tudo que é produto para bebê explora essa imagem do bebê e da mãe. O motivador maior para esse post foi um presente que minha filha ganhou, com vários produtos da Natura da linha mamãe e bebê. Eu briquei, dizendo: nunca vi uma linha papai e bebê. Tudo bem vamos às justificativas da minha esposa: é com a mãe que acontece o primeiro olhar, é a mãe quem tem o vínculo físico dos 9 meses de gestação e que durante vários meses amamentam o bebê. Ok. E o pai que acorda de madrugada pra fazer o leitinho morno, que troca fralda, dá banho, coloca pra dormir, que assume o "fardo choroso" quando a mãe já não tem mais paciência ? Assim como eu tem vários!

Esforços paternos
Já caminhei horas e kilômetros num domingo de neve, praticamente sem transporte público e sem farmácia aberta, pra procurar supositório pro bebê com prisão de ventre (e que quando chega encontra uma fralda suja de cocô, inutilizando a expedição abaixo de 0°C). Depois disso toda cagadinha era uma festa. Hoje limpar fralda de cocô é um ritual :)
Cuidar do seu (pelo menos do meu é) bebê é um momento de prazer que muitos pais não fazem questão por pura preguiça ou às vezes por pensar que é incapaz ou não leva jeito. Eu não levo mas insisto em fazer. Com o tempo o cara aprende. Uma roupa sem combinar cor aqui, uma fralda folgada ali (atenção aos vazamentos pastosos!), um cabelo sem pentear acolá. É normal. Não temos babá e quando minha esposa quebrou o punho ficando impossibilitada de cuidar de nossa filhinha o impacto para mim foi quase indolor já que eu estava capacitado em praticamente todas as tarefas, exceto passar roupa que me trouxe grande sofrimento com direito a dor nas costas (entenderam o "quase indolor"?).

Razões socioeconomômicas?
Essa visão forte na América Latina, de que cuidar de bebê é coisa de mulher, tem fundo cultural no machismo mas também tem razões socioeconômicas. Por exemplo, em países de primeiro mundo onde os salários são altos e o custo de vida caro, ter babá em casa é coisa de rico e como pai e mãe trabalham é normal dividir as tarefas. É muito comum ver na rua pais passeando com seus bebês sem a mãe por perto.

Mudança
Pais covardes, não percam o prazer que é cuidar da sua cria! Mães centralizadoras, deem essa oportunidade aos seus companheiros. Mudemos esse conceito de que cuidar de filho é coisa de mulher. Equilibremos a balança desse esforço.
É chegado o tempo de eleição, e aproveito o espírito de campanha para convidar os papais que cuidam ou tem vontade de cuidar do seu bebê, a criar o movimento "papai e bebê". Muitos pais por aí já são desse time. No século XX as mulheres lutaram por igualdade de direitos, vamos ajudá-las a ter direitos iguais em relação a isso. Mas infelizmente uma coisa é certa e não tem como se igualar: pra dar de mamar, os pais precisarão do auxílio de uma mamadeira.



Post escrito com um agora estranho teclado qwerty ABNT.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Do pó ao pó, das cinzas às cinzas (e da merda à merda)

Pegando emprestado da cultura católica:
"Lembra-te que do pó viestes e ao pó hás de voltar"
Pois o meu pó é Recife (sim, essa é a merda dos parênteses do titulo do post). Depois de uma jornada nômade de varios anos. Perdoem-me meus conterrâneos, mas nao consigo amar esta cidade. Apenas gosto dela pelos laços que tenho com as pessoas daqui. Caos urbano, crescimento desordenado, falta de planejamento, violência (que estatisticamente finalmente vem baixando), pobreza (eu diria miséria), sujeira, buracos, buracos, buracos, sujeira. O que foi feito pra melhorar? Aparentemente nada, apesar dos milhoes ou bilhoes de infra que os gestores vem gastando. Nao moro em Recife desde maio de 2005 e nao vejo mudanças significativas na cidade. Nao disse que nao ha mudanças, apenas nao acho significativas. Ano passado vim para ca como alguém visitando sua terra natal depois de 2 anos sem visita-la. Este ano venho com o olhar critico de alguém que esta analisando as possibilidades de voltar a morar em sua cidade. Minha esposa disse que depois que eu terminar o doutorado, game over pra vida no exterior. O contato de nossa filha com a familia pesou muito (toneladas virtuais) para esta decisao. Quando me perguntam se quero voltar, respondo sem resposta: "minha esposa volta para Recife e levara minha filha logo apos eu conclua o doutorado. Terei que ir também senao fico sozinho."

Megalômanos
Com toda a megalomania de merda dos pernambucanos de ter a "maior avenida em linha reta da America Latina", "maior shopping da America Latina", "maior bloco de carnaval do mundo","maior Sao Joao do mundo" (contestado pelos paraibanos), além de titulos obvios como maior bloco de maracatu do mundo, seguindo a formula "maior [digite_algo_da_cultura_pernambucana_aqui] do mundo". Pra você ver tamanha megalomania, é que perderam o titulo de maior shopping e agora ja me falaram que estao pra construir outro maior ainda la no cais José Estelita (acho que dessa vez sera querem extrapolar os limites e fazer a maior da nossa galaxia).

Quando eu ainda estava na escola, lembro de uma pesquisa internacional mostrada na Veja que apontou Recife como quarta pior cidade do mundo. Pena que por pouco perdemos o titulo. Mas acho que pudemos ostentar por um tempo o titulo de pior da America latina.

Incapacitados
Estou ouvindo falar de investimentos megalomaniacos em Suape (que ja nos deu o titulo de maior numero de ataques de tubarao das Américas, e quem sabe do mundo). Manchete piada no jornal: "Pernambuco importando mao de obra". Ridiculo. Estao construindo megacoisas, e nao tem gente capacitada pra mexer em maquinario, prestar serviços especializados, etc. Alguém ja ouviu falar da cartilha basica de "investir em educaçao e saùde"? Temos que ficar sabidos e também nao podemos ficar dodòi, senao morremos. Claro que os candidatos sabem todos disso, mas ninguém se importa. Quanto mais pobre e burro tiver, melhor pra tirar vantagem.

De volta à merda
Este é um post tendencioso excessivamente realista (negativo) de uma série de posts que colocarei sob o label "merda". Lembro de umas pixaçoes que via nos anos noventa em varias paredes do centro "RECIFEDE". Concordo, e nada mudou de là até aqui. Aqui é uma merda, a até cheira como.

Adeus, primeiro mundo, estou "ansioso" pra cantar "Voltei, Recife" ano que vem. E sem ironias, estou disposto a trabalhar duro para esta cidade ficar menos "merdal", ou no bom francês, menos merdique. Se ficar muito dificil, tentarei morar na Paraiba. Nao tem megalomania, nao fica tao longe de Recife e as estradas de la sao melhores...