sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A maior avenida em linha reta

Levanto uma polêmica para todos os pernambucanos, sobre a legitimidade da Av. Caxangà como a maior avenida em linha reta da América Latina, com 6,2 km de extensao.


Talvez este seja um assunto muito delicado visto que a Caxangà é um dos célebres sìmbolos da megalomania pernambucana seguindo o padrao maior XXX do(a) [Nordeste|Brasil|América Latina|mundo].


No México, existe uma avenida chamada Insurgentes, que nao é totalmente retilinea, mas ha um trecho de quase 10 km em linha reta, num total de quase 29km de extensao, sendo considerada a maior do mundo. E agora? A Av. Caxangà foi reduzida à mera maior avenida em linha reta da América do Sul? Nem isso, pois os fatos sao piores ainda. Se verificarmos no wikipedia, até no Brasil jà tem coisa maior:
A mais extensa via urbana em linha reta do Brasil, a Avenida Teotônio Segurado (ou Eixão) encontra-se em Palmas no Tocantins e possui 14,86 quilômetros de extensão total, sendo 12,54 quilômetros em linha reta

E agora, Pernambuco? O governo precisa fazer algo a respeito disso: ou providenciar uma extensao, ou entao avisar a todo povo pernambucano que esse tìtulo nao existe ja faz tempo. Alguém se habilita a atualizar isso na pàgina da Av. Caxangà no wikipedia? Tenho medo de alterar e sofrer represalias.


Talvez haja uma soluçao para manter o tìtulo: podemos forçar a barradizendo que é a maior avenida completamente retilinea da América Latina.


Maiores avenida retilineas: megalomania originaria da França?

Em Grenoble tem o Cours Jean Jaurès (foto acima, que seria o motivo inicial desse post), que é a maior avenida em linha reta da Europa, com 8 km. Estou na cidade certa!! Aqui é perfeito para recifenses.

Vejam fotos e informaçoes da Jean Jaurès/Cours de la Libération aqui e aqui.

Tem uma historia (talvez lenda urbana grenobloise, nao sei) que diz que forçaram a avenida a ser divida em pedaços com nomes diferentes de modo que a Champs Elysée de Paris continuasse sendo a maior da França. Nao pesquisei a fundo, mas nao acho que esta ultima seja a maior.

Essa megalomania talvez seja algo vindo da França, pois segundo a entrada no wikipedia tem dedo de engenheiro francês na Av. Caxangà. Ta explicado entao.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Escrever a tese

A hora de escrever a tese (ou dissertaçao, se preferir este termo) chegou. E de criar traumas e frustraçoes também. Tem um verbo em francês que ja começo a usar bastante para descrever meu estado: paniquer. Acho que nao precisa traduzir né?

Achava que todo o drama que eu tinha ouvido falar era lenda, mas agora começo a viver isso, e olha que nao faz nem uma semana que comecei.

A primeira frustraçao começa com o formato usado para a redaçao: MS-Word. Eu queria usar LaTex, mas duas razoes me levaram a usar Word:
  1. Orientador faz comentarios direto no arquivo Word, usando o controle de versoes de documento e o recurso de comentarios. Com LaTex ele nao faria e nao iria imprimir o documento para escrever os comentarios.
  2. Curva de aprendizado. Meu uso de LaTex ficou limitado à escrita de alguns artigos. Fazer um documento mais elaborado iria necessitar de mais aprendizado.
Escrevendo a dissertaçao 15 minutos por dia
Ja vinha lendo um livro para me conscientizar do que estava por vir, e para ajudar na motivaçao para escrever. A autora é uma psicologa clinica que ajuda 'escritores travados', e ja trabalhou com gente de Harvard e nao sei mais de onde. O titulo fala em escrever 15 minutos por dia, mas isso é apenas no inicio, para se habituar e tomar gosto pela escrita. O ideal é trabalhar diariamente horas a fio escrevendo a tese. O livro ainda trata de algumas problemas delicados, tais como incompreensao por parte de esposo(a) e filhos(as); dificuldades de relacionamento com orientador; interrupçoes externas (ex: vida pessoal) e internas (ex: mental).

Diferentes técnicas de escrita sao sugeridas no livro, mas eu estou travado pois ainda nao sei a sequência precisa dos topicos a escrever em minha tese. Ja escrevi umas 4 sequências diferentes. Ja ja mudo novamente.

Novos habitos
A outra frustraçao é o ritmo (nenhum) e a velocidade (em repouso) da escrita. Como o documento é longo, hesito em adotar uma abordagem e no meio do caminho dizer (ou ouvir) "ta uma merda, muda tudo". Pela "tradiçao" de minha equipe sao de 150 a 200 paginas, usando o espaçamento minimo entre linhas, semelhante ao formato dos textos que vemos em livros. Logo a hesitaçao leva novos habitos a se instalarem:
  • Abir o .doc da tese
  • Contemplar o cursor piscar por varios segundos com o fundo completamente branco.
  • Nenhuma idéia por onde começar.
  • Rabiscar papéis
  • Buscar na Internet varios tutoriais tipo "how to write a PhD thesis" ou "how to organize your PhD dissertation".
  • Procurar varias teses de computaçao e ver como é o formato delas, como abordam o estado da arte, como mostram as proposicoes, validacoes, etc.
  • Vir escrever neste blog
Falei essa semana com meu orientador sobre o roteiro, e ele começa a fazer perguntas sobre: o que eu quero dizer, qual a mensagem que quero passar, que aspecto do trabalho eu considero mais importante, etc, etc. Tudo isso influenciaria a organizaçao do capitulo de estado da arte. Nao sei se uma reuniao semanal vai ajudar o progresso.

Na configuraçao atual da minha rotina, demoro uns dois meses para escrever (bem) um artigo de 16 paginas. Escrever qualquer artigo porcaria com uma semana acho que da pra escrever, mas a qualidade seria baixa. Tudo bem que o conteudo de artigos é bem denso, e geralmente tenta-se dizer bastante coisa em poucas paginas. Entretanto, se eu transferir esta velocidade de escrita de paper para a redaçao da dissertaçao, devo levar mais de um ano para terminar. Meu prazo é até fim de maio, para poder defender em setembro, ou no maximo, meados de junho pra defender no inicio de outubro. Preciso acelerar o ritmo.

Bom, apenas comecei ha alguns dias e acredito (na verdade conto com isso) que o ritmo de escrita chegarà. Vou voltar a tentar escrever e quando o panico/desespero/angustia/agonia/qualquer_outro_sentimento_parecido chegar, fujo e vou dormir.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Cançoes infantis: medo e violência

Ja falei aqui de mùsicas infantis que "grudam" no cérebro. Como pais, eu e minha esposa temos que aprender novas musicas infantis assim como resgatar de nossa memòria mùsicas que aprendemos como criança, mas nem toda mùsica é necessariamente educativa.

Maltratando animais
Eu lembro que minha mae cantava duas cançoes francesas que ela tinha aprendido na escola: alouette e frère Jacques. Na época dela, as escolas brasileiras ensinavam como lìngua estrangeira o francês e o latim. Recentemente estava procurando no YouTube a primeira, alouette, que eu ja nao lembrava mais como era. A letra é violenta, apesar de ser uma cançao infantil com ritmo bem alegre. Fala de um passarinho e de arrancar penas de sua asa, das costas, da cabeça, o bico e nao sei o que mais. Essa é uma daquelas cançoes pra memorizar uma sequência de coisas e repeti-las, aumentando o conjunto de coisas a cada repetiçao dos versos da cançao. Nesse caso, sao as partes que serao depenadas. E no final, certamente o passarinho morre, mas ninguém fala disso.

Um dos links relacionados no YouTube leva para outra cançao, chamada Souris verte. Essa também maltrata animais. Fala de um ratinho verde, e de uns senhores que mandam mergulhar o rato no oleo e depois na àgua, para que depois o ratinho vire um caracol... O pobre do rato corre é o risco de morrer afogado, isso sim.

Cançoes infantis no Brasil
Eu jà tinha lido sobre isso uma vez no Brasil, numa reportagem que falava das cançoes infantis brasileiras que aterrorizam crianças. Cançoes tipo

"boi, boi, boi, boi da cara preta,
pega esse menino que tem medo de careta"

e também

"nana neném que a Cuca vem pegar" ajudam a criança a entrar em pânico ao invés de dormir. A idéia de ameaça é clara: dorme logo criança, senao o bicho vai te pegar!

E essa:
"Marcha soldado cabeça de papel,
se nao marchar direito vai preso no quartel"

Mensagem de puniçao. Faz o negòcio direito, senao vai preso.

"Atirei o pau no gato" ficaria popular se fosse traduzido para o francês, visto o gosto pela crueldade com animais nas duas cançoes francesas mencionadas anteriormente.

"Como pode o peixe vivo viver fora da àgua fria" darà idéias para crianças maltratarem peixes, igual a mim que matava betas asfixiadas tirando-as da agua. Tentava ver quanto tempo a pobre beta sobreviveria "fora da agua fria". Certamente influência desta infame cançao.

Além do medo e do maltrato a animais, algumas mùsicas estimulam a promiscuidade feminina desde criança como na que diz "sete e sete sao catorze, vezes sete vite e um, tenho sete namorados mas nao gosto de nenhum". Caramba! Sete namorados! Sem comentàrios.

Tem outra que, ao meu ver, é mensagem subliminar para estimular namoro escondido: "papagaio louro do bico dourado, leva essa cartinha pro meu namorado". Como assim levar cartinha? Porque a menina nao leva? Ta namorando escondido é?

Pois é, musicas bonitinhas com mensagens subliminares. Se alguém aì souber de alguma outra cançao infantil que pregue violência, medo ou qualquer outro efeito colateral nocivo, mencione-a nos comentarios. Quem sabe assim podemos catalogar essas cançoes "do mal" e criar versoes politicamente tais como "nao atire o pau no gato".

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

"Vergonha" de ser nordestino


Uma febre de xenofobia que se alastrou no Brasil logo apòs as eleiçoes (quem esta por fora do ocorrido, veja aqui). Eleitores de José Serra culpam os eleitores do Nordeste pela eleiçao de Dilma Rousseff.

Calculos infelizes
Segundo o site do TSE, os eleitores do Nordeste representam 27% do total do paìs. Acho que o problema foi desuniao da elite econômica, visto que os pobretoes miseraveis do Nordeste nao conseguiriam eleger Dilma sozinhos. Logo, nas outras regioes ha "traidores" que votaram em Dilma.

Vergonha
Neste momento, estou com muita vergonha de ser nordestino. Todas essas verdades doem muito. Tenho pensado no suicìdio, pois com um nordestino a menos o Brasil ficaria melhor. Ainda bem que estou na França e esse sentimento é atenuado, visto que aqui sou mais um estrangeiro oriundo de paìs pobre (pode-se também dizer "em vias de desenvolvimento") e ninguém liga pra o fato de qual regiao de meu paìs eu venho. Sou apenas brasileiro, se é que os xenòfobos me permitem ser. Eu posso provar. Tenho passaporte brasileiro e tudo.

Eu tenho vergonha de ser nordestino por sermos burros. Mas sempre tem gente dando força pra nòs. Acho bacana o que fazem no Rio e em SP dando emprego a nordestinos conseguem contar piada nos programas de TV. Em SP, onde tem mais gente inteligente, até deram emprego de deputado para um palhaço nordestino. Hà 8 anos elegeram Lula como presidente, que chegou em SP como retirante. Por consideraçao o mundo todo até chama ele de inteligente, e o cara ja ganhou até titulo de doutor honoris causa.

Somos burros e nao conseguimos fazer avioes no Nordeste. O maximo que saiu foi uma fabrica de jipes, que até participou do Paris-Dakar algumas vezes, chegando a ser vice-campeao em sua categoria. A Ford comprou a fabrica em 2006, pois nordestino nao tem direito a ter nem fazer coisa boa. E se for pra mexer com computador, qualquer burrao consegue, nao é verdade? Ainda bem, pois com isso Recife virou polo de informàtica com um bando de jumento programando. Teve até obra de caridade da Motorola pra montar centro mundial de testes em Recife. A maior rede de supermercados do Nordeste dava vergonha, pois era nordestina. Eles mesmo diziam que tinham vergonha de serem nordestinos. Agora dà orgulho, pois é dos gringos do Walmart.

A pobreza cultural é de dar vergonha. Apenas alguns poucos ritmos como caboclinho, forrò, baiao, côco, xaxado, axé, frevo, maracatu, ciranda, bumba-meu-boi, e recentemente apareceu um tal de manguebeat que Chico Science e Naçao Zumbi levaram para o Brasil. O artesanato daqui nao tem identidade pròpria, tipo as rendas do Cearà ou os bonecos de mestre Vitalino. Pra dar uma forcinha ao nordestinos, muita gente comprou livros de Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Gonçalves Dias, José de Alencar, José Lins do Rego, Ariano Suassuna e outros burroes nordestinos.

Nossa regiao nao dispoe de tantas terras férteis. Isso dificulta o agronegocio que traz tanto dinheiro para regioes como Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Mas ainda tem gente insistindo em plantar no sertao. E o povo ainda implica com o projeto de transposiçao de àguas do Sao Francisco.

Eu tenho vergonha de ser nordestino por falarmos feio. Eu queria falar bonito igual ao povo da novela. Tem atriz pernambucana que foi pra Globo e aprendeu a falar "gentxe" ao invés de gente. O danado é que o sotaque que o povo de là faz quando a novela se passa no Nordeste eu nunca vi em lugar nenhum. Acho que é do décimo estado nordestino.

Pedimos desculpa pela estética de nossas cabeças chatas incomodar tanto. Os europeus que vieram para o Nordeste se misturaram demais com ìndios e escravos africanos ao longo dos anos, aì deu nisso: um povo bem brasileiro. Ja a leva mais recente de imigrantes camponeses europeus que vieram ser explorados em lavouras de café ou que embarcaram com promessas de lindas terras na América, deu uma injeçao de beleza caucasiana na populaçao. Imagino que esse pessoal de sobrenome importado (tipo Prickenstein ou Piriguetti) nao acha que tem sangue nobre. A maior parte deles tem origem tao pobretona quanto nòs, os cabeças chata da Silva ou dos Santos.

Bom, vou terminando as vergonhas por aqui, pois ainda tem tantas outras coisas pra me envergonhar. A grande revolta dos que desejam o mal nordestino é o nosso progresso. Talvez os grandes investimentos feitos recentemente no Nordeste revolte os xenòfobos. Numa sociedade justa o dinheiro vai dos ricos para os pobres para equilibrar a balança. Até a Suiça tem regioes consideradas mais "pobres". Là a regiao italiana suga recursos gerados pelas Suiças alema e francesa. Na Bélgica a parte francesa (Wallonia) "mama" recursos de impostos vindo da regiao de Bruxelas e da parte neerlandesa (Flandres).

O problema é que se matarem muito nordestino, como foi pedido por alguns, o Brasil perde muita força de trabalho. Nordestinos viajaram pra Amazonia pra tirar leite de pau na época àurea da borracha, comeram bastante poeira construindo Brasìlia, fizeram e fazem parte da força laboral dos grandes pòlos industriais do Sudeste. Além dos nordestinos burros que trabalham no mercado de serviços das cidades mais ricas do paìs, tem também os mais burros, que trabalham de babà, faxineiro(a), pedreiro, encanador, eletricista, cozinheiro, etc. Espero que ninguém leve os pedidos a sério e comece com a matança. Mas se matarem alguém por engano, vao justificar: "eu pensei que fosse um nordestino"

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

15 assinaturas para 3 anos de doutorado

Dà-lhe burocracia!
Desde que comecei o doutorado assino um monte de papéis diferentes por ano para poder receber os eurinhos mensais e comprar a baguette e o camembert de cada dia. Explico as razoes da demasiada papelada.
Estamos na burocràtica França. Como dizem por aqui, pourquoi faire simple quand on peut faire compliqué? (algo como "por quê fazer o simples quando se pode complicar"). A universidade segue à risca esse ditado. Como o visto de permanência temporaria (titre de séjour) demora um pouquinho a sair, isso afeta tudo que é contrato que tenho que assinar. Normalmente se recebe da prefeitura um documento provisorio, chamado récépissé, e até o titre de séjour sair tudo fica provisòrio (pelo menos para o ano letivo em curso).
Apesar de eu ter uma bolsa de três anos, a renovaçao dela é anual, assim como o visto. Entao vamos à sequência:
  1. A escola doutoral de informatica (MSTII) me emite uma attestation d'accueil, que me dà direito à um titre de séjour scientifique
  2. Assino e levo o documento para o departamento administrativo da universidade (UJF)
  3. Encaminham para o presidente (reitor) da universidade
  4. O reitor assina
  5. Sou notificado que o documento esta assinado
  6. Busco a bendita attestation d'accueil
  7. Levo-a até a prefeitura, junto com a papelada de praxe para renovar o titre séjour
  8. Aguardo duas semanas para o récépissé chegar pelo correio
  9. Levo uma còpia do récépissé para a MSTII
  10. Emitem um Procès verbal (PV) d'installation com a validade do récépissé (cerca de 2 meses)
  11. Assino e levo para o administrativo da UJF

Pronto, esta parcialmente resolvido o problema. Como sou monitor, ainda tenho outro contrato em paralelo com o Ensimag/Grenoble INP. Ai vao os 3 passos:
  1. Levo copia do récépissé para o administrativo da Ensimag
  2. Emitem meu PV temporario
  3. Sou notificado que o documento esta pronto e vou assinar
Pronto. Bem mais simples. Isso garante o resto da merreca mensal. Com o "faz-me rir" garantido por 2 meses, o titre de séjour chega nesse meio tempo. Volto a fazer a grande jornada maçante:
  1. Levo uma còpia do titre de séjour para a MSTII
  2. Emitem o Procès verbal (PV) d'installation definitivo (para o resto do ano letivo)
  3. O diretor da MSTII assina
  4. Assino e levo para o administrativo da UJF
Em paralelo, repito os três passos com a Ensimag:
  1. Levo copia do titre de séjour para o administrativo da Ensimag
  2. Emitem meu PV definitivo para o ano letivo
  3. Sou notificado que o documento esta pronto e vou assinar
Resumindo, 5 documentos que tenho que assinar por ano com a UJF e Ensimag para poder receber os salarios. Serà que precisaria de tanto?