domingo, 19 de dezembro de 2010

Seguro Saùde na França II

Ja escrevi outra vez, por alto, como funciona (ou ao menos como eu entendo) o seguro de saùde na França. Cada vez mais eu me surpreendo com coisas que vamos descobrindo aos poucos. A surpresa recente foi ontem. Fomos à ultima consulta pediatrica obrigatoria de nossa filha, antes de completar 1 ano. Ela estava gripada, e perguntamos se seria bom fazer nebulizaçao. Eu e minha esposa ja tinhamos decidido em casa sobre comprar um nebulizador. A pediatra falou que a nebulizaçao seria uma boa idéia, e disse que ia nos prescrever o aluguel de um nebulizador. Ainda foi mais gentil e telefonou para uma empresa que instala em casa, ao invés de termos que ir buscar na farmàcia. Perguntamos à ela se tinhamos que pagar algo, e ela disse que nao pois os planos de saùde cobrem isso também.

Apesar dos franceses reclamarem (isso é normal, afinal eles reclamam de TUDO) eu admiro bastante como funciona o sistema de saùde daqui. Realmente existem problemas de atualizaçao quando mudamos de plano, bronca na carteirinha, protocolos de reembolso que sao perdidos, etc. Como tudo é muito burocratico por aqui, realmente acontecem atropelos no sistema de saùde, e por vezes é complicado de entendê-lo.

O sistema de saùde segue um modelo privado. Você paga por tudo. Até hospital universitario cobra (imagino que sejam do governo, visto que universidades sao publicas). Entretanto, todos possuem (ou deveriam) plano de saùde. Se nao tem condiçoes de pagar um plano privado, o governo tem um (Caisse d'Assurance Maladie) que pode até sair gratis dependendo da renda da pessoa. Os EUA estao em vias de mudar seu sistema de saùde para algo "inspirado" nesse modelo usado na França.

Descobertas
Ja se passou mais de um ano e meio depois do post mencionado. Desde la descobrimos varias novidades sobre direitos, hospitalizaçoes, etc. Na época daquele post eu nem sabia que ia ser papai. Vamos às "descobertas" do que mais os planos de saude cobrem aqui na França:
  1. Minha esposa ficou gravida, e gestantes possuem muitos direitos. Do sexto mês de gravidez até 12 dias apòs o parto, elas tem direito a atendimento médico gratuito, medicamentos, exames de laboratorio e hospitalizaçoes. Tudo isso na verdade é independente de ter plano de saùde ou nao.
  2. Medicamentos com prescricao médica sao, em grande maioria, pagos pelo plano. Essa nao é novidade. Ja tinha dito aqui, mas isso continua me impressionando. Minha filha em menos de um ano de vida consumiu muitos medicamentos e vitaminas. Nada fora do normal, nenhuma doença grave. Coisas cotidianas. No Brasil eu teria "quebrado" se fosse pagar tudo que ela consumiu. Raramente desembolsamos algo para pagar medicamentos.
  3. Um curso de 8 aulas de preparaçao para a maternidade é pago pelo plano, com um tipo de enfermeira sage femme, um tipo de especialista em gestantes e bebês.
  4. Uma série de visitas da sage femme à casa da mamae, para fazer acompanhamento da amamentaçao e da evoluçao do peso e tamanho do bebê nas primeiras semanas de vida.
  5. Fisioterapia, com a sage femme ou um fisioterapeuta, para a recuperaçao da mamae no pos-parto.
  6. Aluguel de aparelhos é coberto pelos planos. Minha esposa teve uma bomba elétrica para tirar leite alugada por três meses, tudo pago pelo plano. Nossa filha precisou de um nebulizador, e tudo é coberto pelo plano, como dito antes.
  7. Minha esposa quebrou o punho no primeiro semestre apòs eu desferir um golpe nela com um cano de ferro. Brincadeira. Ela caiu andando de patins (ela sempre confirma esta versao, caso contrario quebro o outro pulso dela). Recebemos pelo correio a fratura, quer dizer, a fatura apenas a titulo informativo. O total passou dos seis mil euros. Cirurgias sao cobertas pelo plano, com a gloria divina. E "graças" ao incidente de asma (se ainda nao leu, esta aqui) com minha esposa, hoje temos mutuelle para ajudar a cobrir tudo.
  8. Curativos em casa. Prescreveram uma série de curativos nos pontos da cirurgia do pulso dela. Os enfermeiros vinham em casa, usavam o kit que "compramos" (pago pelo plano) na farmacia, pegavam a carteirinha dela, inseriam na maquina GPRS (tipo aquelas de cartao de crédito), e pronto. Nenhum euro saia dos nossos bolsos.
Percebe-se que graças à minha esposa pudemos aprender bastante sobre hospitais e coisas do gênero. Vejam mais aqui. Recentemente ela se cortou em casa e sangrou bastante. Eu errei a aorta e acertei outra artéria em sua perna. Brincadeirinha, de novo. Na verdade ela se cortou sozinha com um minusculo estilete uma faca de precisao, mas aparentemente mortal. Segundo ela o objeto inanimado tomou vida propria, escorregando da mao dela e caindo rapidamente nao sei o que mais. Até hoje nao entendo o ocorrido, e como eu estava dormindo no momento do bizarro acontecimento, me pergunto se ela nao estava sob influência de calmantes vencidos ou algum entorpecente. Ela nao quis ir no hospital, apesar da quantidade de sangue e da profundidade do corte. Na manha apos o acidente, apenas vi uma calça ensanguentada que parecia farda de açougueiro. Sim, o estilete perfurou a calça e apunhalou (ou estiletou?) a sua perna. Infelizmente nao aprendemos como é o processo de atendimento e tratamento para levar pontos. Talvez ela tenha cansado deste novo passatempo hospitalar. Caso alguém deseje informaçoes, posso forjar outro acidente com cortes para finalmente aprendermos os procedimentos neste caso.

Aos que vierem para a França, nao esqueçam de fazer a mutuelle. Vejam o triste caso de minha esposa, que vivia longe dos hospitais quando morava no Brasil, e hoje as recepcionistas de quase todos os hospitais de Grenoble jà a conhecem pelo primeiro nome.

PS: Percebi que frequentemente digo "minha esposa" e raramente o nome dela. Nao necessariamente todos que leem este blog a conhecem. O blog persô dela é aqui. E o dos doces que ela faz aqui.