quarta-feira, 9 de julho de 2008

Eu sou brasileiro e não desisto nunca

Até o presidente jà falou isso. Agora é minha vez de usar jargões batidos para expressar minha alegria.
Quem ri por ùltimo ri melhor.
Quem colhe planta.

A pequena longa història de meu trajeto iniciou-se hà um ano e meio. Decidi que precisava mudar, mas se mudasse de emprego ia ficar na mesma, apenas num emprego diferente. Enquanto pesquisava para a monografia da pòs da UEA, bateu vontade de experimentar um pouco o mundo da pesquisa acadêmica. Venho de universidade particular, e tive que estagiar e trabalhar pra ajudar minha mãe a pagar as mensalidades, e com o tempo ir assumindo totalmente o gosto salgado do estudo privado. Na hora da iniciação cientìfica, optei por um estàgio em empresa de desenvolvimento de Software. Sabia que com alguns meses estaria ganhando bem mais. Então, agora era a hora. Resolvi que ia estudar fora. Minha esposa não curtiu muito a idéia no inìcio.

Escolhi com quem e onde queria fazer pesquisa. O destino é engraçado, tinha acabado de me matricular no francês pensando numa possibilidade remota de imigrar para o Quebéc (Canadà). A França terminou sendo o paìs de destino acadêmico...
Era preciso fazer a candidatura para as duas universidades, e se eu fosse escolhido precisava de um teste atestando minha proficiência no francês. Que proficiência? Eu era nìvel 1. Zerado. Comecei a queimar pestana e virei autodidata. Precisava atingir o nìvel intermediàrio. Viva a Internet e seus recursos

Uma sèrie de palavras desestimulantes poderiam ter abalado meu curso se eu tivesse dado ouvidos aos outros:

1 - Viajei em Abril de 2007 de férias pra Belém, e fui na Aliança Francesa de là me informar sobre o teste. Manaus não aplicava o TCF. A funcionària que me atendeu disse que era melhor eu fazer o teste no ano seguinte e falou que eu não iria atingir o nìvel desejado se fizesse naquele momento.

Mandei os dossiês de candidatura mesmo assim. Eu acreditava em mim, mas no fundo sabia que podia dar errado. Por que não tentar?

2 - Fui pra São Paulo um mês e meio depois fazer o teste. Até então ninguém sabia desta "loucura" que eu estava cometendo. Encontrei-me com dois amigos de faculdade que estavam morando là hà algum tempo, e contei porque estava em SP, o lance do teste etc. Um deles me perguntou: "Ah, então tu jà foi selecionado?". Respondi que não, mas os possìveis orientadores disseram que eu tinha chance, logo, iria precisar comprovar proficiência n lìngua. Como dois gaiatos que são, não deixaram barato e fizeram chacota de mim :)

Em julho soube que fui selecionado na universidade em que estou. Duas semanas depois chega a carta da outra universidade com resposta positiva também. Recebi o resultado do teste de francês também. Nivel intermediario, equivalente ao B1. O nivel minimo pedido pela universidade...
Hora de dar entrada no visto.
Segundo falaram, fui o primeiro em Manaus a passar através do processo eletrônico do Campus France. Tive que refazer meu dossiê pela Internet porque este procedimento era obrigatòrio a partir de 2007.

3 - Eu deveria tramitar copias de documentos e os passaportes pelo consulado honoràrio de Manaus, que enviaria tudo pra Brasìlia. Entrei em contato por telefone com a gentil secretària, que perguntou como eu seria financiado. Eu disse que não tinha bolsa, e que ia deixar meu emprego e vender meu carro pra ir. Ela achou um absurdo (foi um tanto anti-ética a reaçao dela) e o que ela insinuou deu a entender que eu era um imigrante disfarçado de estudante. Não achei correta a postura dela, afinal eu ia fornecer todos os documentos. Falei depois que minha esposa ia junto. A gentil senhora manifestou-se de uma forma que eu me questionei se ela realmente trabalhava em um consulado. Pessoalmente ela foi menos negativa. Menos mal...

Fiz uma cartinha pra embaixada pedindo pra agilizar devido a motivos que expliquei. Entraram em contato comigo dizendo que o visto estava ok e mandaram SEDEX direto pra minha residência em Manaus.

4 - Jà podia revelar a proeza maluca. De julho até o momento do embarque pra França em setembro, ouvi vàrios tipos de comentàrio: de estìmulos à baldes de àgua fria, a maioria deu força, mas alguns poucos, de amigos à parentes, me olhavam com um olhar estranho quando eu dizia que viria sem bolsa pra cà e falavam horrores do custo de vida da Europa. Parece até que o otàrio aqui não tinha pesquisado os preços das coisas. Eu jà tava sabendo preço de aluguel, transporte, comida, etc.

Trabalho com TI, e se o mundo não pipocar com alguma crise, tem muito mercado pra nòs por muitos anos. O dinheiro vai, mas vem de novo.

5 - Jà na França, comentava com colegas daqui sobre seguir em tese num doutorado. Problemas polìticos de orientadores versus chefes não me favoreciam muito a continuar em tese. Precisava mostrar serviço. Botei na cabeça que tinha que publicar algo da pesquisa do mestrado antes da defesa. Meus colegas diziam que era dificil publicar em tão pouco tempo e que eu deveria me concentrar na dissertação. Claro que não dei ouvidos. Trabalhando em ritmo forte, desenvolvi o meu projeto, escrevi dois artigos e uma proposta de apresentação técnica em um evento. (Santa paciência da minha esposa!)
Todos achavam que os artigos eram muito técnicos e não eram interessantes de serem publicados, visto o nìvel das conferências, etc. Achavam que sò a apresentação ia passar.

Foi tudo aprovado. Milagrosamente, 100% de aproveitamento até agora.

6 - Pra continuar numa tese precisava de financiamento. Eu não ia pedir bolsa do Brasil, e restavam duas opções pra mim: Bolsa do governo francês ou contrato do laboratòrio. A bolsa daria um pouco mais de liberdade no tema de pesquisa, jà o contrato limitaria-me ao domìnio do projeto que me financiaria. Como sempre, colocaram terra no meu pedido de bolsa. Disseram que é difìcil, que sò as melhores notas conseguem e que isso, aquilo, etc. Era melhor ficar com o contrato mesmo, era o mesmo valor, etc etc. Fiz o dossiê do pedido.

Esta semana recebi uma bolsa do governo francês. Melhor que a do CNPq, por sinal :)
Não fui "top" da turma, mas chegou bolsa pra mim. Estou sem "amarras" na minha pesquisa.

Ok, història comovente. E daì?

Tento mostrar que opiniões externas não devem nos abalar ou desviar de nossos objetivos. Não se deve mudar de metas por que A ou B acha errado ou acha que não vai dar certo. Sempre é bom refletir sobre crìticas, mas somos nòs que sabemos dos nossos limites, dos nossos objetivos, sonhos, planos. Antes de qualquer outra pessoa, acredite em si pròprio. Meus pròximos 3 anos em tese podem até ser medìocres, mas esse ano de vitòrias nunca esquecerei. Insisti no que acreditava e tudo deu certo.

Considero-me sortudo, ilumidado, ou qualquer outro adjetivo que achem adequado. Mas se eu não tentasse, não tinha sorte do mundo que fosse fazer tudo isso acontecer. Tem que se mexer pra poder sair do lugar. O tempo todo recebi confiança e palavras de estìmulo de minha esposa, que mesmo não curtindo muito essa idéia de vir morar fora do paìs e ficar ainda mais longe da famìlia, embarcou comigo nessa jornada "louca". Nessas horas você vê como o amor é cego :)

Se alguém tem algum plano ousado e està naquela situação tipo "com uma asa delta e parado na frente do abismo", espero que este post sirva de empurrãozinho. Você consegue alçar vôo e chegar do outro lado. Pode acreditar. E se não tentar, vai se arrepender depois.

9 comentários:

Alvaro Victor Cavalcanti disse...

Meu amigo, venho aqui lhe dar os parabéns novamente e também agradecer por ter escrito este relato. Pois apesar de já estar bem, motivado, consegui ficar mais ainda depois da leitura! Continue assim, e espero que nos vejamos em breve! :-) Abraços!

kiev gama disse...

Legal!
é o primeiro que empurro no abismo :)
Desejo sorte e sucesso na tua jornada!
à bientôt!

Viviane Cavalcanti disse...

Olá Kiev!

Tu não sabes a repercussão que esse post causou na vida do meu marido.. Ele me contou e disse que tinha que lê-lo logo (eis o que fiz agorinha) e realmente é uma batalha gloriosa a sua. Seu ousado!

Sei que pode parecer exagero, mas tenho certeza que você vai se destacar ainda mais, por tudo isso que a gente já sabia. E, principalmente, porque casasses com uma pessoa determinada e "louca"como você.

Beijos

kiev gama disse...

Valeu!!
E a nova batalha de vocês està começando :)
Vai ser tranquilo. Pode ter certeza.
Nos veremos em breve!
Abraçao!!

Viviane Cavalcanti disse...

Como já diria minha professora de francês, Liviany, "você tem que se acostumar com o idioma, ouvir música, ver filmes, escutar os jornais". Ela diz, eu faço! :o)

Espero que possamos nos rever em breve mesmo. Tô torcendo por isso e para que a nossa jornada dê certo!

Beijos

Líviany Moura disse...

Oi meu maridinho... só queria dizer que te amo muitoooo!

Como você mesmo falou, não me adaptei tão fácil a idéia de ir morar mais longe do que já morávamos. Tinha meus trabalhos, tava "feliz" e satisfeita... mas sei que fiz a coisa certa... fui atrás do meu amor e não me arrependo! Deixei minha vida prá viver a nossa, mas tudo tá bom, porque eu tô ao teu lado.

Reclamo, brigo, mas tô muito feliz, simplesmente por fazer parte da tua vida.

Conta comigo prá tudo... mesmo triste, se você for prá China, eu vou atrás... porque amo e quero sempre o melhor prá tu e consequentemente prá nós, porque você estando bem, eu ficarei em qualquer lugar do mundoooo!

Fiquei muito feliz que nossos amigos leram esse post da tus historinha e se identificaram... Nós dois sabemos de todos os comentários maldosos que ouvimos até hoje por termos feito o que fizemos... Mas não deixamos abater e corremos atrás... Espero que o mesmo aconteça com eles e que muito em breve nos encontremos... :o)

Te amo muito!

Se cuida... tô com muitas saudades!

Andrea Barreto disse...

Cumpadre nem da pra acreditar que existe alguem nesse mundo que duvide ou duvidou da sua capacidade.Parabens pra vcs dois!!
Ainda bem que tu não escutou esses conselhos do mau ;)
Boa sorte e saiba que sempre estarei na torcida.

Andrea Barreto

Viviane Cavalcanti disse...

:o)

Fico feliz de estar sendo "usada" como fonte de locadora.. Se servir, vou colocar um post sobre os filmes que pretendo assistir.
Mas como já disse anteriormente, não sou crítica de cinema, por isso, sempre acho os filmes ótimos! :o)

Ah, ontem à noite até perguntei a Lila se você tinha assistido ACROSS THE UNIVERSE, o filme é perfeito e transpira Beatles.

Beijos

Breno disse...

Kiev,
Parabéns. Tu sempre detonou na faculdade, na vida profissional e agora na área acadêmica.
Mais sucesso pra vocês ai na França.
Abração,
Breno Alencar