quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Escolhas

Eu digo que é sempre bom ter-se uma opçao apenas. Porque quando temos mais de uma começa a ficar dificil tomar decisoes. Especialmente quando se esta inseguro. Ja falei aqui que voltaremos para o Brasil apos minha defesa do doutorado. No post anterior falei que o pedido de cidadania francesa furou. Hoje foi a vez de eu declinar um convite de pos-doc. Apenas a carater informativo: pos-doutorado nao é titulo. O grau acadêmico maximo é o doutorado. Logo, esta meio furada a afirmaçao "fulano(a) é pos-doutor(a)". Pos-doc refere-se ao periodo (geralmente entre 1 e 3 anos) passado por um doutor em uma instituiçao de pesquisa (universidade, instituto, departamento de P&D de empresa, etc). Tem doutor que fica pulando de galho em galho fazendo pos-doc por muitos e muitos anos, mas o normal é ficar um ano em um pos-doc e em seguida arrumar algo mais duradouro. Professores doutores também fazem pos-doc (utilizava-se o termo periodo sabatico), servindo pra dar uma atualizada ou aprofundada em alguma area do conhecimento.

Non, merci
Normalmente um doutorando (ou mesmo um recém doutor) rala pra encontrar pos-doc legal. Esse que declinei caiu no colo. Meu orientador falou pra um arquiteto de software do departamento de P&D de uma grande empresa de telecomunicaçoes européia (aquela com nome de fruta) que eu estava acabando a tese e buscava um pos-doc. Ele conhece a tematica com que trabalho, que tem a ver com os projetos do departamento dele. Recebi o convite para continuar com eles na mesma linha de pesquisa de minha tese. Um framework (para os leigos: digamos que seja um software que serve de infraestrutura para fazer outros softwares) deles entrarà em fase de industrializaçao, e eu iria aplicar neste projeto tecnicas que usei na minha pesquisa do doutorado. O projeto pronto potencialmente poderia entrar nos produtos dele a médio prazo, que em alguns anos significaria milhoes de usuarios. Claro que produtos de pesquisa tem sempre grande potencial de serem engavetados e nunca chegar perto do mercado. A possibilidade de milhoes de usuarios é altamente motivadora. Fora o desafio, a grana ia aumentar pelo menos uns 50% em relaçao ao que ganho hoje, que ja nao é ruim pro padrao francês mas também nao é boa, ainda mais para uma familia de 3. Se tivesse abertura pra negociaçao eu até choraria pra ganhar mais. Soube que eles tem varios beneficios, inclusive passagens aéreas baratas.

Mas ja é passado. Tive que declinar, pois entra o lado familiar visto que a nossa decisao é retornar para Pindorama. Minha esposa esta vivendo quase 4 anos aqui na França sem nunca querer ter saido do Brasil. O estranho é que ela gosta daqui, mas nao gosta do fato de estar aqui. Acho que foram os anos mais dificeis da minha vida (e da dela imagino que também). A infelicidade dela era diariamente aparente, com breves momentos de alegria. Depois que ficou decidida a volta, o bom humor dela ficou mais frequente, e o brilho nos olhos dela parece até que aumentou. Uma pena que eu e nossa filha nao sejamos suficientes pra felicidade dela. Pra mim o trio ta otimo. Mas, cada um é cada um.

Valorizaçao dos trabalhos de tese
Ainda nao defendi a tese, mas fico motivado pelo que faço ter uso no mercado. Em uma apresentaçao nao tanto acadêmica que fiz em 2009, uma pessoa se interessou pelas técnicas que proponho. Fiquei desconfiado se o cara realmente tava interessado. Achei que ele estava louco em pensar que o que eu fazia era interessante. Hoje ele aplica essas técnicas no produto em desenvolvimento na empresa start-up que ele criou, e atualmente eu e meu orientador damos consultoria pra esta empresa através de um contrato formal com nosso laboratorio.

Voltando para o Brasil provavelmente terei que fazer outra coisa. Minha pesquisa atual nao tem espaço no mercado brasileiro, que normalmente usa tecnologia pronta ao invés de desenvolver. A interaçao universidade-mercado na França nao é tao forte como nos EUA, mas é bem mais avançada que no Brasil. Por incrivel que pareça, a impressao que tenho da academia brasileira é que predominam abordagens cientificas e formais, enquanto na França (e na Europa em geral) vejo tanto isso quanto pesquisas aplicadas diretamente no mercado.

Sem precisar fazer lobby nem correr atras de nada, a tal "valorizacao dos trabalhos de tese" (um termo que usam aqui na França) aconteceu meio que naturalmente. Muita gente trabalha em pesquisa de doutorado durante 3, 4 anos, defende, engaveta a tese e nunca mais se fala naquilo. Antes mesmo de terminar a minha ja pude fazer reais contribuiçoes. Tenho (ou tinha) um grande complexo de inferioridade por ser aluno de universidade privada tentando se meter em meio acadêmico. O fato de vir a um pais de primeiro mundo, poder dizer "olha, vocês poderiam fazer isso assim" e te darem ouvidos me deixou bastante satisfeito. Essas pequenas vitorias me ajudaram a superar esse trauma e melhorar minha autoestima.

What if
Mas, em nome da familia, agora é hora de eu abrir mao de algo. O processo de auto sugestao hipnotica alienante power plus plus de me convencer para a volta esta tranquilo. Eu acho (percebam como estou decidido). Estou convencido de que quero voltar agora. Claro que sim! o boom economico do Brasil, os concursos, investimentos no Nordeste, o legado de Lula. Eh agora ou nunca! * pausa* Cada vez mais acho que este post é parte do trabalho de autoconvencimento, autoconformaçao, autoetc para "eu mesmo me auto justificar para mim". Bom, se eu nao voltar fico sem familia pois minhas meninas voltariam sem mim. Se é pra voltar, tenho que querer, ou ao menos me convencer que agora é a boa hora. *fim pausa* Mas, o plano atual de retornar e prestar concurso de professor adjunto em federal vai ter que esperar devido a noticia que vi hoje dos cortes que o governo fez no orçamento de 2011 (preciso tirar os concursos da lista acima). Coincidência bizarra de acontecer isso no dia que eu recuso um pos-doc legal. Sem previsao para concursos, é hora de traçar o plano D e talvez buscar emprego de novo no mercado brazuca, rasgando o diploma de doutorado que ainda nem tenho pois doutorado nao serve de nada nesse mercado de onde vim.

Entretanto, ficara pra sempre a duvida do "e se eu ficasse um pouquinho mais de tempo na França, até onde iria tudo isso?" (isso me lembra o what if das historinhas da Marvel). Afinal, nao tenho vinculo com Capes nem CNPq que me obrigue a voltar. Um aninho a mais, daria tempo pra tirar cidadania, juntar mais uns eurinhos pra voltar e quem sabe dar mais umas turistadas pelas redondezas. O problema também é que ficando, no futuro surgirà o "e se tivessemos voltado logo apos o fim do doutorado?".

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