domingo, 25 de setembro de 2011

Defesas de doutorado na França

Post esquecido em modo edição há uma semana. Segue ele:

Apesar de eu nao saber em detalhe como funcionam no Brasil as defesas de doutorado, sei que em relaçao à França tem boas diferenças. Neste post detalho um pouco como funciona aqui na França, especificamente defesas de teses em Computaçao na academia de Grenoble.

No Brasil ouvi muita gente falar de uma etapa chamada de "qualificaçao", em que o doutorando apresenta o problema que esta estudando, a relevância, as abordagens e soluçoes propostas os avanços, etc. Pelo que entendi, tudo isso serve como uma pré-aprovaçao (malditos hifens que nao sei se ainda existem com a nova reforma ortografica). Depois de passar na qualificaçao o doutorando continua a redaçao da [dissertaçao |tese|manuscrito| o nome que você achar melhor] e defende dentro de alguns meses.

Aqui, como tudo na boa e velha França, tem uma deliciosa burocracia em um tempo curto que traz uma pitada de stress ao doutorando, especialmente se ele corre contra o relogio, como eu. Resumi em dez as etapas a serem seguidas:

  1. Escolha da banca examinadora: Normalmente escolhida pelo orientador, mas o doutorando pode "influenciar", como eu consegui. Propus três dos seis membros da banca (sete contando com o orientador). O maximo sao 8 membros na banca.
  2. Preenchimento dos formularios de defesa:  Detalhes da defesa (titulo da tese, abstrac, data e local da defesa, membros da banca, etc). Entregar papelada na escola doutoral.
  3. Envio do manuscrito aos revisores da banca: Os revisores da banca (normalmente dois) recebem um convite formal da univseridade, e o manuscrito de tese é enviado à eles por correio pelo doutorando ou orientador.  
  4. Relatorio dos revisores: Os relatores tem quatro semanas para enviarem um relatorio autorizando ou nao a defesa. Esse é o "go/ no go". Aqui os relatores dao sua apreciaçao num relatorio escrito. Eles podem dizer nao (e obviamente soliticar alteraçoes), podem dizer sim e solicitar alteraçoes, e podem simplesmente dizer sim. Os critérios de aprovaçao sao: satisfatorio, bom, muito bom, excelente.
  5. Validaçao e processo de entrada na escola doutoral (departamento de computaçao): Relatorio ok, Papelada pra ser assinada pelo diretor da escola doutoral. Processo deve ser iniciado 4 semanas antes defesa. Essa etapa dura dois dias no minimo. 
  6. Envio do dossiê ao Colégio doutoral (universidade): Papelada pra receber a assinatura do presidente da universidade (i.e., reitor). Entregar com no minimo com 3 semanas de antecedência da data de defesa. Estou aguardando esta etapa, que ao que tudo indica 
  7. Defesa: O grande dia. 45 minutos de defesa, pelo menos cerca de 30 minutos de perguntas. Depois a banca se tranca numa sala para a deliberaçao do resultado. Imagino que decidam rapido, mas ficam fazendo hora pra "valorizar" o protocolo. Depois de uns 15 minutos informam o resultado. Geralmente é positivo, salvo rarissimas exceçoes (eu nao sei citar qual foi a exceçao). Depois disso o pôt de thèse, um coquetelzinho pra confraternizar-se com a banca e os outros que estavam presentes na defesa. Um relatorio e mais papeis da burocracia sao preenchidos pela banca e o recém-doutor entrega no colégio doutoral.
  8. Versao final entregue à biblioteca : Até três meses depois do passo acima. Hoje em Grenoble ja nao é mais necessario imprimir a tese (um desperdicio, pois geralmente teses nao sao lidas depois de defendidas). Agora basta fazer o upload no site da biblioteca et voilà.
  9. Comprovante de defesa: Emitido até 3 semanas depois do passo acima ser validado pela biblioteca.
  10. Emissao do diploma: Esse é lento. Leva entre um ano e um ano e meio apos o passo acima.

Eu tive a reposta positiva na semana passada, e tudo esta entregue à escola doutoral. Um relator marcou  o resultado como "muito bom" e o outro como "bom". Fiquei bem contente, pois mesmo depois de um periodo turbulento do lado pessoal, consegui ficar acima do satisfatorio. No momento em que escrevo este post estou entre os passos 6 e 7.

Segundo o que conheç até agora, se o doutorando chegou até a etapa de defesa ja esta tudo "quase" garantido e o titulo é "quase" certo. O grosso do trabalho mesmo para alcançar o grau de doutor foi a escrita da tese, e obviamente toda a pesquisa conduzida para chegar ao conteudo apresentado na tese. Comecei a dizer que a defesa faz parte do processo de tortura. Na verdade, é uma formalidade que serve para o candidato apresentar seu trabalho e responder aos questionamentos da banca, provando que foi ele quem conduziu a pesquisa. Isso evita fraudes de teses "compradas" ou escritas por terceiros (ex: assessor de alguém importante e muito ocupado para escrever uma tese, como um politico).

Provavelmente as duas unicas pessoas do mundo que lerao tua tese de cabo a rabo sao os relatores (rapporteurs). Talvez existam três, caso o orientador o faça. Tenho a impressao que o meu pulou varias paginas da minha, levando em conta a distribuiçao de comentarios ao longo das paginas: trechos carregados de comentarios versus trechos (longos) sem comentario algum, nem mesmo um "ok" como ele tem habito de colocar ao lado de frases delicadas ou de trechos pesados complicados para entender.

Acho-me extremamente prolixo (tem nada a ver com lixo nao, viu? Na duvida posto o link pra o dicionario). Vide os tamanhos dos posts. O mesmo aconteceu com a tese, que eu queria que tivesse 120 paginas de texto. Terminou com 170 e se contar capa, indices, referencias, subiu pra 198. Eu mudei a formataçao varias vezes pra ganhar paginas e descer das 200 pra nao assustar os rapporteurs. Acreditem em mim, poucas pessoas se motivam a ler teses de computaçao INTEIRAS com mais de 200 paginas. E olha que o assunto que estudo nao é hardcore. Alguns podem até questionar se Engenharia de Software é mesmo "ciência" digna de titulo de doutorado. A versao final vai passar das 200 paginas pois adicionei um resumo de 5 paginas em francês (escrevi a tese em inglês).

A defesa
Voltando à etapa 7, sao 45 minutos de defesa, o que acho um pouco desproporcional em relaçao ao tempo levado para a pesquisa. Para ter idéia, o tempo destinado aos artigos de conferência (+/- 16 paginas) que apresentei foram de 20 ou 25 minutos para cada um. De qualquer forma, a capacidade des sintese e de abstraçao do doutorando é avaliada na defesa. Ja assiti a uma defesa em que a sessao de perguntas foi de 1:30

Fico aqui entao aguardando a chegada destes 45 minutos, ja ansioso para dar ponto final nessa etapa e começar a proxima. No meio tempo, preparo os slides da apresentaçao e imagino possiveis perguntas que a banca vai fazer. Dia 6/10 à tarde estarei no Amphi E da Ensimag apresentando. Mentalizem boas vibraçoes para mim :)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Intercâmbio no Brasil

Quem quer ir fazer um intercâmbio no Brasil ?

Esta é a pergunta que sera feita dia 15 aqui na Ensimag, escola de engenheiros em Informatica de Grenoble que tem programa de intercâmbio com diversas instituiçoes no mundo, inclusive o Brasil. O convênio é com a UFRGS, uma as melhores na area de computaçao do paìs  O objetivo do journée Brésil é mostrar o valor desta experiência para os potenciais candidato, rapidas informaçoes sobre o Brasil, o idioma, as possibilidades, financiamentos, etc. Assisti ha uns dois anos, a titulo de curiosidade, e o professor que fala do Brasil é um francês  professor da UFRGS. Se eu nao estiver enganado, ja ouvi falar de dois franceses de la no departamento de Computaçao. Nao sei se ha mais. Aqui em Grenoble nunca ouvi falar de professor brasileiro, seja na UJF ou na Ensimag. Mas doutorandos eu posso chutar com confiança e dizer "tem mais de dez". Fora as dezenas que ja terminaram.

Devido a esta parceria, tem tanto estudantes de ca de Grenoble indo para la, como brasileiros vindo para ca. Muitos estudantes brasileiros vindos da UFRGS. Nos quatro anos em que fiquei em minha equipe, apareceram três estudantes da UFRGS e um deles continuou no doutorado. Da minha época, eu fui o unico brasileiro “sem convênio”. O interessante é que eu fui monitor da Ensimag por três anos, e dos mais de 200 estudantes que tive, nenhum era brasileiro. Como a disciplina era Banco de Dados, eu suspeito que eles ja devem chegar com o crédito do curso feito no Brasil. No ano passado ensinei Introduçao a Sistemas Distribuidos para o pessoal do ultimo ano, 53 alunos ao todo. Nenhum brasileiro.

O Brasil ainda é meio fechado para estudantes vindos de fora. Nao sou eu quem afirma, pois  isso ja foi tema da lista de discussao da Sociedade Brasileira de Computaçao. Aqui nao ha aulas em inglês, e duvido que haja em espanhol. Uma das melhores formas de criar vinculos com outros paìses e trazendo gente de la para estudar em seu paìs, ou mandando gente do seu para estudar là. Uma das maneiras de se fazer isso é criar programas de intercâmbio, como no caso acima. A tendência é a colaboraçao ir aumentando, e criar uma situaçao onde todos os lados ganham. Nao sei se com esse crescimento rapido (eu diria que esta inflando, ou inchando) talvez o Brasil mude mais a cabeça. O paìs tem ganhado bastante projeçao e confiança internacional, e muitos paìses querem estabelecer parcerias com ele. Talvez isso mude. Por enquanto, Dilma esta pensando em enviar milhares de brasileiros pra fora. Espero que nao vao com intuito apenas de passear, e que voltem também, com algo na cabeça.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Attestation d'accueil

Um estudante que esta vindo para Grenoble esta com duvidas sobre a attestation d'accueil, um documento necessario para apresentar quando o viajante que vem à França ficarà hospedado na casa de alguém. Aproveito a informaçao de utilidade publica, e escrevo este post baseado em recortes do email que enviei para ele:

Brasileiros (assim como varias outras nacionalidades que provavelmente nao estarao lendo este post escrito em português) precisamos comprovar que tem onde ficar ao viajar para a Europa. Seja com reservas de hotel (e dinheiro suficiente para pagar) ou mostrando que vai ficar na casa de alguém. Sim! MOSTRANDO. Para comprovar, é preciso apresentar um documento chamado Attestation d'Accueil emitido pela prefeitura de onde mora o seu anfitriao. Em 2009 fiz esse negocio duas vezes para visitas que recebemos. Se nao me engano, sao de 2 a 3 dias pra ficar pronto na prefeitura. Nota para os grenobloises: em Grenoble é no Hôtel de Ville, colado com o Parc Paul Mistral e nao na Préfecture (de l'Isère) que fica em Verdun). A emissao custa 30 euros, e o anfitriao devera comprovar enderenço, renda, etc. Os seguintes dados do viajante sao necessàrios:
  • Nome completo
  • Data da viagem e duraçao da permanência
  • Numero do passaporte e data de validade
  • Data e local de nascimento. 
*Importantissimo*: Você precisa apresentar o original entrando na Europa. Dependendo da viagem, atraso no envio, correios em greve, etc, o melhor a fazer é enviar uma copia scanneada (abaixo um exemplo, com os  dados apagados, por questao de privacidade). Pela data de emissao  recente e uma boa historia convincente, talvez o funcionario da imigraçao aceite. Um casal de amigos que nos visitou  fez isso em Portugal e colou, apesar deles terem levado uma bronca por terem mostrado uma copia do documento e que "aquilo nao valia de nada" segundo o simpatico e amavel funcionario no aeroporto. Também é possivel que cidadao com o carimbo na mao va com sua cara e nao peça nenhuma comprovaçao. Na duvida, melhor levar o papel.


Se for entrar pela Espanha, é mais complicado, como mostra o historico. Sugiro levar vacina contra gripe espanhola, certificado de reservista, fator RH, imposto de renda, carteira de trabalho, comprovante de salario dos ultimos 10 anos, e comprovante de renda antecipado dos proximos 30 anos para provar que você nao precisa imigrar pra Espanha para roubar emprego dos 20% de desempregados. Na duvida, melhor  levar também teste de HIV, pois como tem muitas brasileiras e brasileiros que vao se prostituir en España, é melhor mostrar pra eles que nao estao trazendo doenças.

PS: Nao sou vinculado a nenhum orgao publico. As dicas daqui valem hoje, mas talvez nao amanha. Leiam o lembrete na barra ao lado.