terça-feira, 31 de maio de 2011

Parece piada, mas nao é...

Apesar da anunciada pausa, nao tive como nao escrever esse post, "vomitado" mesmo e sem a releitura/correçao que tento fazer de vez em quando.

Acordei às 3:30 da manha, pra aproveitar o silêncio da madrugada, a filha dormindo, e o cérebro descansado.
Ca estou eu, escrevendo no maior fluxo.
Chega o gato (ou gata, Polly, para vos apresentar o bichano), sobe na escrivaninha e me atrapalha como faz com frequência, pedindo carinho dando cabeçada no meu braço enquanto digito. Hoje ela nao inventou de deitar no teclado do laptop, como faz sempre. O gato adormece ao lado do laptop e posso continuar escrevendo com as duas maos. Depois de alguns minutos as pecinhas do quebra cabeça começam a flutuar na minha mente novamente.

Tudo ficando claro de novo. As pecinhas se encaixando, eu escrevendo e conseguindo organizar e resumir minha opiniao sobre um conceito confuso, que tem mais de 15 definiçoes diferentes. Penso: "ainda bem que minha filha nao acordou pra atrapalhar o racicionio". Parece piada. Adivinha. Acho que ela ouviu meu pensamento. Preciso aperefeiçoar meus dons telepaticos com o Professor Xavier, dos X-Men. So pode ser telepatia, ou tentao macumba, voodoo haitiano, mau olhado, urucubaca ou o que você der nome.

La vou eu ao quarto dela. A chupeta tinha caido da boca dela. Coloco a "pepê" de volta ao devido lugar. Minha filha se poe de joelhos no berço, levanta os dois braços e olha pra mim com um olhar de cao sem dono, quase chorando. Pego-a nos meus braços, ninando daqui, dali. Depois de alguns minutos, tento coloca-la no berço. Uéeeeeeeeeeeen. Déjà vu:


Nunca cheguei a entrar no berço, como o cara do video do youtube, mas ja houve ocasioes dela nao querer ficar sozinha. Tento ninar de novo. Depois de alguns minutos o meu "teste" para ver se ela esta dormindo. Levanto a maozinha dela e solto. Se ela cair sem resistencia o sono pegou legal. Se houver algum movimento de resposta, nada feito. Ela agarra meu dedo e mexe o braço. Logo, neném tava ainda meio acordada.

Desisto e volto para o computador. Com ela nos braços. Depois de ler isso, minha esposa, que quase nao tem dormido também na correria que andamos, eu escrevendo a dissertaçao do doutorado e ela o tal do "mémoire" do mestrado, vai reclamar dizendo "porque nao me chamou?". Nao vou nem repetir que ela nao tem dormido também.

Voltando ao ocorrido, la estava eu de volta ao computador. Desta vez em uma posiçao nao muito boa para a coluna, pra ficar confortavel pro bebê dormir. A pancinha acumulada nos ultimos anos ajuda como travesseiro. Basta se inclinar na cadeira e voilà, uma caminha de bebê. Olho para o texto. O cérebro "broxou". Cadê as pecinhas do quebra cabeça que estavam ali?

Vim escrever aqui, pra contar a "piada". Espero que um dia minha filha leia isso. Daqui até la provavelmente aperfeiçoaremos nossa comunicaçao mental.

sábado, 21 de maio de 2011

Pausa

Com uma certa frequência sempre tem gente que lê o blog e me contacta direto por email, para tirar duvidas sobre vir pra França e muitas vezes especificamente Grenoble. Nesta semana tive contatos de Natal e Porto Alegre (fato interessante: a maior populaçao de estudantes brasileiros de Grenoble é sem duvida do RS). Nessa troca de informaçoes tem coisa que eu gostaria de transformar em post, para que a informaçao torne-se publica e ajude a responder às duvidas dos que perguntam ao oraculo - o Google, caso nao tenham entendido a piada :)

Gosto muito de escrever aqui. Além de ser uma otima fuga das obrigaçoes, tem muita informaçao que termina sendo util para varias pessoas que ja agradeceram pelo que escrevo aqui. Agradeço-os de volta, pois isso termina me estimulando a escrever mais e ver que este blog de quase 4 anos de vida tem servido para alguém além de mim. Entretanto, tenho que focalizar em outra atividade o esforço de teclar. Criei um prazo graças ao planejamento familiar imposto pela esposa (voltar no fim de 3 anos de doutorado). Terminou me ajudando a acelerar o processo, mas estou começando a estourar alguns prazos que eu mesmo criei. Apesar de meus amigos do laboratorio estarem com opiniao divida se eu consigo ou nao terminar a tempo, acho que estou melhorando no contexto em que ninguém (exceto meu orientador) achava que eu fosse terminar dentro dos 3 anos. Logo, depois deste pequeno texto introdutorio, o foco do post: farei uma breve pausa na produçao (normalmente aleatoria) do "conteudo util" do blog. No meio tempo, continuarei com post inuteis, como sempre houve.

Extrapolo a inutilidade deste post e coloco aqui abaixo algumas tirinhas do PhD comics que retratam meu contexto atual (sorry para os que nao entendem inglês):


Tem dias que estou assim:


E esse grafico é perfeito para descrever a minha produtividade em varios dias destes ultimos 3 anos:



Até breve!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Bievenue à Grenoble

Ha mais de um ano havia postado o link de um video bacana sobre Grenoble.

Aqui tem outro, bem legal também que incluo aqui abaixo que vi numa tuitada do amigo Carlos, um "ex-grenoblois" hoje de volta à Colombia:



Bienvenue à Grenoble par VilledeGrenoble

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Fluxo

Alguém ja ouviu falar do Fluxo, de acordo com a psicologia?
Quem é programador vive isso todos os dias, e se o caro leitor programador ao final do post nao se identificar, nem nunca tiver vivido uma situaçao mental de "fluxo", sugiro mudar de profissao pois programar deve ser doloroso para você. Aos leitores nao-programadores, acredito que ja devam ter vivido situaçoes similares em tarefas que exigem concentraçao, como escrever (chat e email nao vale, ok?) .

Segundo o Wikipedia, o fluxo é
um estado mental de operação em que a pessoa está totalmente imersa no que está fazendo, caracterizado por um sentimento de total envolvimento e sucesso no processo da atividade. Proposto pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, o conceito tem sido utilizado em uma grande variedade de campos.
Alguns dos componentes do estado de fluxo:
  1. Objetivos claros (expectativas e regras são discerníveis).
  2. Concentração e foco (um alto grau de concentração em um limitado campo de atenção).
  3. Perda do sentimento de auto-consciência.
  4. Sensação de tempo distorcida.
  5. Feedback direto e imediato (acertos e falhas no decurso da atividade são aparentes, podendo ser corrigidos se preciso).
  6. Equilíbrio entre o nível de habilidade e de desafio (a atividade nunca é demasiadamento simples ou complicada).
  7. A sensação de controle pessoal sobre a situação ou a atividade.
  8. A atividade é em si recompensadora, não exigindo esforço algum.
  9. Quando se encontram em estado de fluxo, as pessoas praticamente "se tornam parte da atividade" que estão praticando e a consciência é focada totalmente na atividade em si.

Isso nao tem nada de exclusivo aos garotos e garotas que fazem programa (tô falando de software!). Quando eu trabalhava como programador. Perai, como desenvolvedor é mais legal. Ou melhor, Engenheiro de Software, para ficar bonito. Existe ainda um pseudo-posto de Engenheiro de Software metido a besta: Arquiteto de Software, mas eu prefiro ser um Engenheiro de Software que trabalha com arquiteturas :)

Bom, voltemos ao flow. Depois de alguns minutos concentrado no que estava fazendo, sem interrupçao, eu imergia de tal forma que na minha cabeça estava separado cada pedacinho do que estava fazendo. Sabe o Firefox com varias abas abertas? Seria algo proximo da explicaçao que posso dar de como ficam as coisas na minha cabeça. Talvez haja um exemplo melhor. Você roda o programa, da um errinho, nem precisa ler a mensagem pois rapidamente você lembra daquele apostrofo que digitou errado, ou o ponto e virgula que achava que faltou.

Quando o fluxo esta bom mesmo, consigo escrever codigo por minutos ou às vezes horas (bons tempos esses das horas a fio) , compilar e nao dar erro, executar e o negocio funcionar. De primeira. E quando nao funciona de primeira, você ja sabe ir direto ao ponto onde deu errado, pois tudo ta na tua cabeça. Quando entro no fluxo o envolvimento com o que estou fazendo é tao grande que podem até falar comigo e nao vou perceber, pois estou em outro lugar. Tem que gritar meu nome ou me catucar, pra me trazer de volta deste estado mental, do lugar que alguns programadores gringos chamam de "the zone".

Bem, hoje demoro para entrar no fluxo. As vezes horas. O contexto mudou. No laboratorio cada um trabalha no seu projeto e no seu ritmo. Ha muitas interrupçoes. Em casa tem um bebê pedindo atençao e é complicado entrar no fluxo.

Agora escrevendo a tese complica entrar no tal do fluxo. Agora ha pouco estava descrevendo na tese minhas implementaçoes, o capitulo que me permite entrar no fluxo mais facilmente pois de certa forma "revivo" o que programei e tenho que descrever aquilo de forma textual mais alto nivel, com diagramas, etc. La estava eu agora no fluxo, falando das dependências intercomponentes fizemos assim porque assado dava isso, patati patata. Minha filha, que cochilou logo depois do almoço, da uma sequencia de tossidas. Vou no quarto dela ver o que foi. Coloco a chupeta de volta na boca dela. Aproveito e faço um carinhozinho na minha bela adormecida :)

Volto para o computador. O fluxo foi embora. Tento escrever de novo, aos poucos os componentes aparecem de novo na minha cabeça, crio um exemplo na cabeça começo a descrever, lembro de um problema que nao tratei e tento começar a descrever antes que esqueça que problema era esse que nao tratei.
O telefone toca. Adeus, fluxo. De novo.

Volto para o computador, puto da vida por dois fluxos rapidamente "adquiridos" terem sido perdidos. Cadê o problema que ia começar a descrever? Esqueci! Fiquei mais puto ainda, e vim falar do fluxo aqui.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Algumas verdades sobre fazer doutorado

Vi esse post (em inglês, sorry) num blog que leio de vez em quando. Uma doutoranda (agora doutora) nos EUA falando das dificuldades dos caminhos de doutorando. Parece que é bem mais duro nos EUA.
Ela enumera alguns pontos cujo texto reproduzo aqui.
Dos 6 itens os 5 primeiros se aplicam a mim. O sexto ainda vai chegar, com o contexto adaptado ao Brasil.
  1. Money. Living as a graduate student is a type of painful, debt-incurring poverty. Many of those who stop do so because they can’t deal with being poor anymore, and they discover that they have options.
  2. Doing a dissertation is hard work. It isn’t impossible, and doesn’t require you to be a genius, but it DOES require you to be stubborn and play the game according to the rules of the academy. These rules apply nowhere else and are often detrimental to success in the “real world”.
  3. Most of this work is done on your own. While this was moderately easier for me as an experienced professional, it is still sometimes overwhelming and full of doubt. Then you get two cross-examinations by experienced people in your field who will grill you on all sorts of things, at least some of which you never considered and many not even care about. You are put through a confidence-destroying process in the hopes that you will come out strong and confident on the other side. Then they wonder why many people don’t finish and others graduate with“imposter syndrome”.
  4. There is little structure, which allows you to drift aimlessly for a long time. As I did, earning 12 extra research credits because I couldn’t pick a topic and changed my idea a half-dozen times.
  5. It is easy to feel that your work has no impact on the world. Especially because it doesn’t. Most of what is written by academics equates to a strange form of verbal masturbation that involves writing things few people will ever read about topics so specific that no one cares or so obvious to a practitioner that they make the writer sound too stupid to qualify for “Big Brother”. There appears to be a point during the dissertation process where that futility hits you, and you either have to muscle through it or walk away.
  6. It is usually at this stage that you find out what a starting associate professor gets paid, what you have to do to get one of those jobs (such as pack up your life and move to East Nowhere to work at Bottom-of-the-Barrel University), and just how much work goes into getting one of those jobs in the first place. [The academic hiring process is like nothing I have ever seen outside of the executive offices of fortune 500 companies, and even those places rarely go to the same extent or take half as long as a small department will take in hiring a lowly new prof.]

Achei otima a frase final do post dela. Tudo igual no meu caso, exceto que estao sendo 3 anos para mim (+ 1 do Master = 4) e enquanto ela ganhou 27 kg nesse processo, eu ganhei "apenas" 10kg.

"But that cookie cost 6 years of hard work, a great deal of stress on my marriage, 60lbs gained and a lot of a good bit of money"