sábado, 21 de março de 2009

Mais Greve Geral


Nesta quinta 19/03 houve outra greve geral na França. A CGT (Confédération générale du travail) falou em 3 milhões de pessoas que foram às ruas (as somas dos nùmeros da polìcia falam em apenas 1,2 milhão). Bastante gente considerando a população de 60 milhões de pessoas, ou seja, 5% do povo foi às ruas protestar.

Um fato interessante é o que um colega me contou sobre aderência à greve. Na empresa de TI onde ele faz pesquisa, o pessoal envia email dizendo que vai aderir à greve e por quanto tempo. O pessoal que cuida da folha de pagamento contabiliza o desconto no salàrio do cara. Fez greve, não recebe. O detalhe é que falou que tem gente que faz greve por 5 minutos, outros por metade do dia, etc. Os que fazem de 5 minutos são para solidarizar com os outros. Descontam uma merreca daquele funcionàrio mas ele fez nùmero. Ao contabilizar quantos aderiram à greve os chefes saberão que X empregados estão insatisfeitos. Jà os caras que fazem greve por meio dia, por exemplo, podem sair e participar das manifestações externas, e numerar nas contagens nacionais dos que foram às ruas. Nessa empresa ele falou que vai um ônibus, leva o pessoal pra manifestação e depois de algumas horas volta.

Parece bobagem, mas os nùmeros de repente servem para pressionar os governantes (empresàrios inclusos, pq eles influenciam bastante, seja na França, EUA ou Brasil e terminam governando por tabela). Assim como os governos "maquiam" nùmeros de balanços, os sindicatos arrumam seu jeito de jogar do mesmo jeito. O problema é se esse jogo ficar manjado e as greves ficarem banalizadas.

*Tradução livre da charge:
"A partir de agora, quando hà uma greve ninguém a percebe..."
"Desculpe-me!" "Perdão!"

quarta-feira, 18 de março de 2009

Alguém gostaria de ir ao quadro?

Hoje tive mais uma reunião com a equipe da disciplina Banco de Dados, na qual sou monitor. Ouvi um comentàrio interessante (pelo menos para mim) que me chamou a atenção mais uma vez. Um dos membros da equipe disse: "a turma X participou bastante dos TDs (trabalhos dirigidos) e praticamente todos foram ao quadro".

Esse é um elemento pedagògico que na minha memòria reside na escola fundamental. Durante a universidade lembro-me de uma ou duas vezes do professor pedir para algum voluntàrio vir resolver o exercìcio no quadro. Como eu tenho um hiato de 3 anos de matrìcula trancada, talvez là nos fundamentos do curso os professores chamassem mais vezes (se é que chamavam) os alunos ao quadro.

Percebi este "hàbito pedagògico" aqui na França em outros dois momentos: 1) quando cursei as disciplinas do mestrado e algumas vezes o professor perguntava se alguém queria ir ao quadro durante os TDs; e 2) pelos comentàrios e discussões sobre o "ir ao quadro" no treinamento para monitores no fim do ano passado. Comentei com minha esposa outro dia e ela disse que também percebeu, pois nos TDs que ela tem no curso de Psicologia os professores também fazem o mesmo.

Estou ministrando Estrutura de Dados no CNAM (afiliado à Ensimag, instituição onde sou monitor) e tenho convidado aos alunos à irem ao quadro. Sempre são receptivos, e fazem questão de ir. Teve um que até falou baixinho, mas de um jeito que queria ser ouvido: "eu gosto de ir ao quadro". Não vou entrar nos detalhes pedagògicos do ir/não ir ao quadro, sair da zona de conforto, vantagens/desvantagens desta abordagem, etc. Como é normal aqui, estou aderindo à esta pràtica, visto que faz parte da formação dos estudantes. Em terra de sapo, de còcoras com eles. Provavelmente levarei esta pràtica comigo para onde eu for.

Deixo aqui registrada minha percepção deste fato particular, pelo menos em relação à minha formação.

domingo, 15 de março de 2009

Passagem comprada

Cotidiano de enxurrada de atividades em paralelo, trabalhando noites e fins de semana sem ver progresso significativo em nada, angùstias de primeiro ano de tese, etc e tal. Provavelmente a ausência de posts percebida pelos três leitores assìduos deste blog (os três que comentam sempre).

Tudo (estava) no seu ritmo normal. Bom, não sei se tão normal.

Comprei a passagem pra ir à Recife passar minhas férias no meio do ano. Aquela història de a data da viagem vai chegando, o preço vai aumentando. Por causa de uma semana hesitando paguei 50 euros mais caro. Comprei no site Opodo, no inìcio desse mês. O mais em conta foi a TAP.

Estranhamente, depois da compra surgiu uma ansiedade, até então ausente. Ao chegar em Recife serão quase dois anos longe. De repente, fiquei ansioso para que o tempo passe logo, pra pegar esse avião e ir matar, ou ao menos dopar, as saudades. Da famìlia, dos amigos, da minha terrinha, e do caldinho na praia de Boa Viagem. Ops! Não tem mais caldinho.

Em casos semelhantes ao meu, não aconselho a compra antecipada da passagem. A não ser que queiram pagar menos caro.

A minha estratégia de combater os males da distância é esquecer. Mas quando eu lembro de alguém ou de qualquer coisa de là, agora lembro também que estou de viagem marcada, e aumenta a ansiedade.

Maldita hora em que comprei a passagem...

domingo, 8 de março de 2009

Acabou-se o caldinho em Boa Viagem?

Buscando por notìcias de minha terrinha, Recife, achei uma reportagem falando da proibição da venda de alimentos não industrializados na orla de Boa Viagem. Acabou-se o caldinho, a ostra, o espetinho de queijo na brasa, etc. O mercado ambulante da praia acabou (ou pelo menos estão querendo acabar). Bronzeador é industrializado, mas acho que o gosto não vai me agradar. Talvez comprar um saquinho de amendoim industrializado. Não. Esse eu posso comprar no mercado da esquina. CD pirata pode vender né? Afinal, pirataria jà é indùstria no Brasil. Mas eu me recuso a pagar por pirataria. Entretanto estou disposto a comprar "comidas piratas" não-industrializadas que provavelmente serão vendidas no mercado negro do pòs proibição em Boa Viagem.

A intenção de proibir, do ponto de vista sanitàrio, realmente é louvàvel. Lembro da notìcia de um cara da banda Eva que morreu de intoxicação alimentar apòs comer ostras estragadas em Salvador.

Pô, mas e o caldinho? Até o queijinho na brasa... Serà que proibiram agua de coco também?

Porque não colocar placas dizendo "O ministério da saùde adverte: A ingestão de alimentos não industrializados na orla de BV pode levar à morte" ou então placas tipo a dos ataques tubarão advertindo do perigo das comidas? Não vão tentar nem regularizar cadastrando as pessoas, instruindo e fiscalizando?
E o povo que vendia isso vai fazer o quê? Medidas dum terceiro mundo desordenado tentando por ordem na casa.

Aqui na França ambulante é proibido. Em Paris uns caras vendem em pontos turìsticos os famosos chaveirinhos da torre Eiffel bem mais barato que nas lojas de souvenirs. Sò que eles ficam de olho o tempo todo vendo se a polìcia chega. Mas em praticamente todas as cidades existem trailers que vendem pizza, crepe, churros e outros bagulhos mais na rua. Não é coisa do tipo pegar a indenização comprar uma Kia Towner, converter em barraca de cachorro quente e escolher ponto(s) pra estacionar. De dia na frente da empresa X, de tarde na faculdade Y, e no fim de semana na calçada da praia. Os pontos são fixos e legalizados pela prefeitura, que deve cobrar uma taxa nada irrisòria. Os donos desses trailers rebocam essas barraquinhas com seus 4x4 novinhos. Imagino a casa do cara. Mas, a realidade aqui é outra. Serviço é caro, e isso aumenta o bastante o valor das mercadorias não-industrializadas em paìses de primeiro mundo.

Acho que o comércio ambulante desordenado "enfeia" qualquer cidade, mas o povo que vende esses bagulhos na orla està ali tenta viver honestamente. Virou marca registrada de Boa Viagemo o formigueiro de ambulantes que enchem nosso saco oferecendo comida, gritando e às vezes até nos divertindo. Estão descaracterizando o cartão postal Recifense. Minhas férias não serão as mesmas sem sentar na praia e tomar cerveja com caldinho. A elite deve estar satisfeita "tirando essa pobreza da praia". Chega de farofagem né?

Elitezinha que não sabe (e nem quer) distribuir a renda direito. O poder fica na mão da nobre elite, que pra aumentar salàrio mìnimo sò falta chorar na televisão dizendo que tà difìcil trocar de carro importado todo ano.
Quem tà là em cima não tenta resolver os cada vez maiores problemas sociais, que geram cada vez mais pobreza e criminalidade. Sò tem serviço meia boca, tipo bolsa famìlia e bolsa escola. A raiz do problema todo mundo sabe, mas ninguém quer aprender a resolvê-lo. E na pràtica o que a elite faz é fingir. Fingir que tà tudo bem, fingir que não vê o pedinte no semàforo (isso a classe média também finge bacana), blindar o carro pra fingir que não vê o ladrão, construir muros mais altos com cerquinha elétrica no topo e fingir que se sentem seguros, contratar empresas de segurança privada e fingir que eles são policiais e que a polìcia funciona.
E agora vem com essa de tirar emprego de gente honesta. Não venham reclamar se o vendedor de caldinho desempregado assaltar a tua casa. Aliàs, vai assaltar o resto do povo que não tem carro blindado, nem muro alto nem segurança privada.

E eu ainda quero voltar pra essa merda de paìs...
Sem caldinho na praia estou pensando seriamente se vale a pena ou não.