sábado, 31 de janeiro de 2009

Greve Geral

Eu jà havia falado de Greve aqui nesse blog, e de là pra cà houve um bocado de manifestações (manif, utilizando o estilo abreviado), greves, paralisações, etc. A sociedade daqui é batalhadora, bota a boca no trombone, reclama, exige direitos. A història nos mostra que a França é um paìs literalmente de guerreiros. Mas parece que o povo està perdendo a batalha contra o "sistema".


Nesta quinta, dia 29, houve uma Greve geral em todo o paìs. Membros de vàrios setores (ensino, pesquisa, saùde, indùstria, transportes, etc) foram às ruas protestar contra diversos assuntos, entre eles:
  • perda do poder de compra (inflação sem aumento de salàrio equivalente) que vem acontecendo ao longo dos anos
  • demissões na indùstria devido à atual crise econômica mundial
  • reformas do governo: trabalho nos domingos, corte de cargos em hospitais, mudanças no setor de pesquisa, etc
Perguntei à algumas pessoas se no momento de passagem do Franco para o Euro os preços se mantiveram equivalentes. A resposta foi não. Aconteceu igual ao Brasil na passagem pra o Real, quando comerciantes arredondaram valores para cima. Um Real era tabelado em CR$ 2750,00. O que custava 1000, passou pra 1 Real, quando era pra ter ficado no màximo 40 centavos. Comerciantes "honestos" provavelmente remarcaram pra 50 centavos.

Li numa revista nesta semana que aumentou a quantidade de franceses vivendo abaixo da linha de pobreza. A linha corresponde à 817 euros para uma pessoa, e 1300 para um casal. O salàrio mìnimo daqui é uns 1300 para jornada semanal 35 horas/semana, e perto dos 1500 para 39 horas/semana. O valor pode ser surpreendente para nòs brasileiros, mas o custo de vida aqui é bem mais caro.

O contraditòrio da luta contra o trabalho aos domingos é que tem gente precisando trabalhar...

Bom, é complicado pra mim julgar ou avaliar a situação deles. Minha mente terceiro-mundista e conformista não conhece o padrão de vida que a França tinha antes de entrar pra União Européia, que me falaram que era bem melhor que hoje em dia. Até no Brasil também era melhor là pelos anos 5O e 60, pelo que meus pais me contavam.

Sinais de crise num paìs rico, talvez seja uma fase, talvez o inìcio (ou seria continuação) da decadência. Nòs brasileiros conhecemos bem esses problemas dos preços subirem e os salàrios não acompanharem, demissões, reformas injustas feitas pelo governo. Nòs vivemos nessa merda de situação hà tempos na terra brasilis. Portanto, bem vindos à merda, amigos franceses. Espero que o governo de vocês escutem vossos gritos, por que o nosso se finge de surdo.

* Tradução livre da charge:
- Se vocês fizerem greve não terão mais poder de compra
- Resta-me o poder de minha mão na tua fuça

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Hockey no Gelo

Ontem fomos assitir à semifinal da Copa da França de Hockey no Gelo. O time de Grenoble, o Brûleur de Loups, é dos bons: jà levou outras vezes essa copa, o campeonato francês e não sei o que mais. Assusta ver os caras literalmente protegidos até os dentes. Os gladiadores, digo, jogadores, cada um armado com um tacape, que chamam de taco, ficam dentro da arena, se espancando e correndo atràs da pastilha.


Não sabia das regras desta batalha e fui inferindo algumas na hora, que por sinal devo até inferido algumas errado: Se o goleiro prendesse a pastilha no chão com a luva, resultava em disputa de posse de "bola" (imagem abaixo). Os outros jogadores podem ajeitar e até interceptar a pastilha com os patins, quando ela passava "voando" tinha cara que esticava a mão pra pegar. Deve poder né? Não tem linha lateral, e o cara ainda pode usar a parede pra vazer uma "tabelinha" e driblar adversàrio. Não tem escanteio, os jogadores dão a volta por tràs do gol. Um caos! Vale dar porrada, puxar e dar trombada (o vìdeo abaixo que Lila gravou mostra uma trombada leve), bater e empurrar o taco do adversàrio. Pra se ter idéia, teve até um taco quebrado durante a partida!


Deu a entender que pode tudo, contanto que esteja com o taco na mão. Em um dado momento um jogador soltou o taco, pulou no outro, segurou o capacete do adversàrio e bateu a cabeça da vìtima duas vezes contra o gelo. O juiz puniu o rapaz com dois minutos fora do jogo. Acho que foi porque ele fez isso sem o taco, pois em outras cenas tão violentas quanto essa os jogadores estavam com taco e nada acontecia. Parece ser difìcil fazer gol. São 3 tempos de 20, o Rouen fez um gol no primeiro, e outro no segundo. Estava 2 a 0 no terceiro tempo e achei que o Grenoble ia perder. Em menos de 10 minutos os caras fizeram 3 e viraram o jogo. Impressionante, e violento. Não houve sangue, mas teve lances fortes com direito a porrada no rosto e mãozinha no nariz pra ver se o sangue desceu.

O difìcil que achei era acompanhar a pastilhinha, e sò dava pra saber que era gol quando os jogadores pulavam de alegria... E a torcida altamente empolgada, cantava musiquinhas "Allez Grenoble!" pelo menos nuns quatro ritmos diferentes.

Quem fala que Brasil x Argentina no futebol é jogo violento, precisa ver um jogo de Hockey no Gelo. Se tiver Brasil x Argentina nessa modalidade, acho que o jogo é acompanhado de paramédicos...

O pròximo esporte de gladiadores que queremos ver aqui é o Rugby.



quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Pizza, bolo ou queijo?

Este relato ocasional é uma baboseira aleatòria (ainda maior que o normal). Cultura fùtil inùtil. Não leia até o fim se não quiser perder tempo.

Quem nunca viu um "gràfico de pizza", ou até jà se aventurou a criar um no MS-Excel?

O nome é bem sugestivo, dada a semelhança a uma pizza. Mas sabia que em outros idiomas o pessoal vê outra comida ali?

Em inglês: Pie Chart. Os anglòfonos acham que o gràfico parece uma torta. Abaixo, uma torta de abòbora:

Em francês: Graphique Camembert. Um queijo. Coisa de francês mesmo... Segue uma foto do famoso camembert:
Em espanhol: Gràfica de Pastel (Bolo). Mas encontra-se também ocorrências de "Gràfico de Torta", que nem precisa traduzir. Jà se perguntou qual a diferença entre bolo e torta? Foto abaixo de um "Pastel de Almendras":


E para nòs, no bom e velho português brasileiro: Gràfico de Pizza.


Os gràficos são todos iguais, mas a comida é que muda de lìngua pra lìngua. Não sei se é hàbito, mas acho a pizza mais parecida mesmo...

*Novamente, devido ao AZERTY lamento pela troca dos acentos agudos pelos graves no texto.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Geladeira na Janela

Se fora da tua casa tivesse uma temperatura de menos de 0°C, o que você poderia pensar? Colocar uma bebida pra gelar?
Pode ter certeza que funciona tão bem, e às vezes até melhor que a geladeira :)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Bike no frio


Hoje pela manhã: -7°C. Agora à noite, enquanto escrevo: -2°C. Nevou no inìcio da semana passada, mas com a temperatura baixa assim a danada da neve ainda não derreteu toda. Alguns pedaços da calçada tornaram-se escorregadios e traiçoeiros, mas a pista estava pedalàvel hà alguns dias. Depois de uma semana sem pedalar, tentei sair de bicicleta hoje pela manhã.
O negòcio aqui não està como na foto ao lado, mas tem um pouquinho de neve, e a famosa "geada" tà rolando todo dia. Jà consegui ir de bicicleta até a faculdade em torno dos 0
°C, mas hoje foi difìcil. Desisti no inìcio do trajeto, com as bochechas dormentes. Encostei a bike na parada de tram mais pròxima e fui no quentinho. Imagina o Polo Norte como não deve ser. Amanhã tento novamente, mas jà estou pensando no calorzinho do tramway :)

domingo, 4 de janeiro de 2009

Formação de Monitores

Antes de sair de férias participei de um evento que acontece todo ano paras os monitores "novatos". Cerca de 150 monitores das 5 universidades de Grenoble (eu pensava que eram 4...) e da Universidade de Savoie ficam 3 dias em uma estação de férias no meio das montanhas, mas na verdade nada de férias. Estàvamos em treinamento. Tivemos apenas uma tarde livre pra esquiar, quando eu sofri no skating, um tipo de ski de fond. Parece fàcil, mas eu e outros dois monitores sò fazìamos cair. Nunca suei tanto abaixo de zero!

Assistimos à diversas palestras e participamos de oficinas. Vàrios temas foram abordados: a maneira como se apresentar em sala de aula; o papel do professor nas universidades; o papel das universidades; como avaliar o desempenho de estudantes; etc. Acho um tanto questionàvel um mega treinamento desses depois de os monitores estarem em ação hà três meses. Entretanto, algumas dùvidas ou perguntas não existiriam caso este treinamento fosse antes de entrarmos em sala de aula.

Na França existe um òrgão chamado CIES (Centre d'Initiation à l'Enseignement Supérieur) que é responsàvel pela formação dos monitores através de treinamentos como esse. A idéia é que durante o três anos do doutorado os monitores tenham a oportunidade de participar do ensino, trabalhando com uma carga horària de 64 horas anuais. Desta forma experimentam tanto a pesquisa quanto a docência, e podem decidir se querem tornar-se docente-pesquisador (enseignant-chercheur) ou apenas um pesquisador.

O trabalho dos monitores concentra-se geralmente em conduzir trabalhos dirigidos (TD) e trabalhos pràticos (TP). Os TDs permitem aplicar o conhecimento dos cursos teòricos praticando exercìcios. Os TPs são as 'aulas de laboratòrio', que em cursos da àrea de informàtica geralmente requerem o uso do computador. Hà casos em que monitores também ministram aulas teòricas. Na minha monitoria, até agora, ministrei apenas um curso teòrico e o resto foi TD. Jà no segundo semestre (a partir de fevereiro) terei mais horas de curso teòrico do que de TD.

O caminho natural do monitor é tornar-se maître de conférences (equivalente a professor assistente). A bolsa do monitor acumulada com a bolsa do ministério jà é o equivalente ao salàrio de um maître de conferences de nìvel inicial. Se um doutor ex-monitor torna-se um maître de conf, automaticamente ele pula esse nìvel e vai pra o seguinte.

Esse estàgio foi uma experiência bastante enriquecedora, e ainda hà outras formações pela frente. As pròximas formações são à la carte, e escolhi até agora duas que trabalham o "como falar em pùblico". Apesar de eu ter feito isso vàrias vezes ainda acho que preciso melhorar bastante. Ao longo dos três anos de monitoria por vir, tentarei relatar ocasionalmente o que estou aprendendo sobre o funcionamento do ensino superior francês, desta vez podendo acrescentar o ponto de vista do docente.